terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Julgamento, 2009 e "Desejo" de Victor Hugo



Olá pessoal. Dezembro para mim foi, sobremaneira, tempo de pensar nos "fins". Fins, plural, seria sinônimo de metas a se alcançar, ou seria uma quantidade considerável de finalizações? Acho que para mim foi um pouco disso tudo... 

Dentro da estrutura dos Arcanos Maiores, vemos as finalizações em algumas cartas de maneira objetiva, e em outras como a única saída viável: a primeira delas, claro, é A Morte, tão temida que em alguns baralhos de Marselha não possui sequer nome; a Torre, tão temida quanto (pelo menos por quem conhece seus fatídicos significados), denominada por vezes A Casa de Deus (La maison Dieu) - quem sabe uma forma de suavizar sua influência...; o Universo, que por sua própria natureza de última carta do baralho (embora não em todas as estruturações do mesmo) simboliza todos os "finais felizes" (mesmo que não seja exatamente sempre assim...).
Existem duas cartas que, por serem ligadas a ciclos temporais, podem também ser relacionadas com os fins. São elas a Roda da Fortuna e o Julgamento. A Roda da Fortuna diz respeito aos ciclos, em geral, e a inconstância da Existência, em particular. Após experienciarmos o Ajustamento,  e interiorizarmo-nos em busca de nosso próprio Tempo como o Eremita, entendemos que, mesmo diante da inexorável ordem vista anteriormente e da capacidade que possuímos de identificar padrões e portarmo-nos frente a eles de maneira adequada, há o lado caótico e inconstante do Universo, que só vemos como caótico porque não o podemos compreender perfeitamente (como analogia, vemos hoje o estudo da genética quebrando diversos paradigmas anteriormente sustentados pela ciência, como por exemplo a existência de raças entre os seres humanos.)
Por sua vez, o Julgamento, cuja iconografia em diversos baralhos remete ao Juízo Final, foi sabiamente renomeado por Crowley como o Aeon. Aeons são grandes períodos cíclicos e espiralados de tempo, beirando a eternidade. Quando surge no jogo, o Aeon representa o momento de refletirmos sobre os últimos tempos, não num sentido apocalíptico raso e epidérmico que temos visto recentemente pelos acontecimentos que porventura ocorrerão em 2012, e desde sempre com a interpretação dos últimos dias pelas religiões de massa; os últimos tempos, nesse caso, dizem respeito aos mais recentes momentos, eventos e acontecimentos vividos.
Essa não deixa de ser a perspectiva de muitos de nós em dezembro, independentemente do ano. Momento de fazermos as contas, refazermos a contabilidade, verificarmos nossa saúde, mental, emocional e física, e prepararmos uma nova página em branco (aperte ctrl+t) para um novo momento. Mesmo que, bem sabemos, esse novo momento seja uma continuação dos demais momentos vividos. Ainda assim, ele é novo.
Mas, para que seja novo, devemos encerrar todas as situações engessadas do passado. Essa é a função do Aeon. Sua letra é Shin, sua regência é o Fogo (para alguns, Plutão, quando este ainda era planeta). O 31º Caminho Cabalístico une Hod e Malkuth, a Glória do Reino ou o Reino da Glória. Um dos arquétipos relacionados é o Hermes Psicopompe, o "Acompanhante das Almas", mas eu acredito que há muito de Hephaesthos aqui também.
Hoje de manhã, ao abrir meu e-mail, me deparei com o texto clássico do Victor Hugo, enviado pela Léa Bastos. Obrigado por me fazer refletir, Léa. 

Desejo

Victor Hugo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Sim, eu amei, eu desesperei, eu errei e acertei; mas principalmente, eu confiei.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

Posso dizer que tenho amigos. Isso já me faz feliz. Mas não só os tenho, como sei que eles têm a mim. E eu tenho a sorte de possuir a míriade de possibilidades entre o bom e o mau, entre o ignorante e o sábio, entre as antíteses que forem passíveis de ser compreendidas.


E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Já acreditei que meu maior inimigo era eu mesmo. Ledo engano, embebido em soberba. Há momentos em que pessoas conseguem, sim, machucar você. Por prazer. 
Mas não por muto tempo.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Os meus passos me trouxeram até aqui, e eles me levarão aonde eu desejar... Mesmo que eu não faça a menor idéia de para onde eu esteja indo.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

...Mas havemos de convir que, por vezes, é necessário ser intolerante, pois nem sempre tolerar significa educar, ensinar, ser bom. Por vezes, ser intolerante nos libera de mágoas há muito acalentadas. Mas que sejamos verdadeiros até nesse momento, para que não haja quem pense: "Nossa! Ele (a) não é assim!". Nossa intolerância deve ser, até certo ponto, previsível.


Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

CARPE DIEM. Aproveite seu dia. E aproveite seus dias. E, só para lembrar, esse é o primeiro dia do resto da sua vida.


Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Chame a Tristeza para dançar. Mas não se esqueça que, quando ela lhe dá a mão, ela não pretende soltar. E ria, ria muito e ria de tudo, ria de si mesmo e dos outros, sabendo que o riso desafoga a alma, mas também pode hiperventilá-la.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

E, espero, que você descubra que não é você que, diretamente, é responsável pela opressão, pela injustiça e pela infelicidade de outrem, mas que você pode, diretamente, ser responsável por um ato de bondade que, se não for capaz de sessar com o sofrimento, é capaz ao menos de atenuá-lo.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Aproveite as dádivas da Mãe. Elas são gratuitas e efêmeras, portanto, não as desperdice.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

E aproveite sua sombra, seus frutos, a ciclicidade de suas folhas, a funcionalidade de seus galhos; e, alegoricamente, perceba o quanto você é parecido com essa árvore!

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

É preciso ser prático. É preciso ter os pés no chão, para que a cabeça toque as estrelas... e nós saibamos o caminho de volta. É preciso ter consciência que somos mais que o dinheiro pode obter. Ainda que ele seja muito bem vindo!

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Se todo o possível for feito e todos os momentos forem bem vividos, até a Morte é bem vinda. Com saudades, com dor, mas sem sofrimento, respeitando o ciclo da vida.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem

... E que sendo homem, se o quiser, encontre um bom homem, e que sendo mulher, se o quiser, encontre uma boa mulher...

E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.



sábado, 19 de dezembro de 2009

Nova postagem no Clube do Tarô: O ano de Vênus, ano da Imperatriz




Tem sido difícil para mim ficar longe do blog, mas é devido realmente por motivo de força maior. Tentarei manter um ritmo, embora menor (mas ainda assim um ritmo) nos próximos tempos. Eu havia me prometido isso antes...


Bem, novidade: texto novo no Clube do Tarô, sobre o ano de 2010. E que vibrem as cálidas energias de Vênus sobre nós!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vencedores da primeira promoção do Conversas Cartomânticas, e um pedido de desculpas

Olá pessoal. Sei que estou em dívidas com todos os leitores pela ausência de postagens, mas o fim do ano tem sido um pouco exaustivo proffisionalmente, e eu não possuo Internet em casa. Contudo, a produção de textos continua no mesmo ritmo, e aguardem para breve novas atualizações. Fica aqui registrado o meu pedido de desculpas, pois sabem o respeito que nutro por todos vocês, leitores do blog, "conversadeiros" como eu...
Como houveram poucas inscrições na promoção, decidi que todos saíram vencedores.Adriana Carvalho, Hugo Morelo e Katia, aguardem meu contato para esse fim de semana.
E aos demais, obrigado por frequentarem o blog!
Até breve... Espero!!!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Fim de ano. Fim de ciclos. Finalizações. "Fins"(?)


Fim de ano. Cada vez mais difícil postar assuntos devidamente refletidos, devidamente pensados. Vamos por impulsos... Vamos por sensações. Deixo o Mago de lado um pouquinho e mergulho na experiência do Louco. Dizem que Freud fazia isso, deixava as palavras brotarem do seu inconsciente para proferir suas palestras; portanto, ele não se preparava, porque já se sentia preparado. Esse não é meu caso, mas vamos lá.
Nos Arcanos Maiores do Tarot, vemos os “fins” (plural esquisito, que rima sub-repticiamente com Maquiavel, quando não lemos sua obra com o devido respeito...) ou melhor, a finalização por meio das suas diversas possibilidades: O Imperador apresenta o encerramento de uma fase de curta duração (“vencer uma batalha não significa vencer uma guerra”); a Morte, o encerramento de um ciclo (“morra antes que você morra”); a Torre, a quebra de paradigmas – e de algumas costelas, por vezes (“algumas bênçãos de Deus chegam estraçalhando todas as vidraças”); o Æon, que apresenta uma nova Era, um novo ciclo (“hoje o tempo voa amor/ escorre pelas mãos/ mesmo sem se sentir/ e não há tempo que volte amor/ vamos viver tudo o que há para viver”) e o Universo, que indica uma finalização de proporções cósmicas – micro ou macro, mas ainda assim cósmicas (Om mani padme hum).
Pedi um aconselhamento.
Tirei o Universo.

Om mani padme hum.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Uma reflexão sobre as Cartas Invertidas



Olá pessoal. Eu estive lendo sobre cartas para pensar na reflexão para 2010, e, curiosamente, me ative às cartas invertidas. Quem me motivou a isso foi a Kelma Mazziero, em uma postagem que, infelizmente, eu acabei perdendo no meu e-mail. Achando, posto o link.
Nessa postagem, ela falava sobre a ilusão que temos quando um ano é regido por uma carta tão positiva quanto a Imperatriz, como é o caso do próximo ano, de que tudo será fácil, tudo será pleno, alegre, feliz, satisfatório e belo. É até um alívio, depois de um ano tão corrido como 2009 (regência Luxúria. Não poderíamos esperar algo muito diferente disso...), encontrarmos uma regência tão "suave" e "amena" como é o caso da Imperatriz. Será mesmo?
Com o texto de Lady Mazziero, fiquei pensando a respeito. Dá um friozinho na barriga quando Arcanos como o XII, o XIII, o XV, o XVI, o XX (...) saem numa previsão de longo prazo, como se tudo fosse ficar ruim por isso. Da mesma forma como ao saírem Arcanos como o III, o VII, o XIV, o XIX, o XXI sentimos duas toneladas caírem de nossos ombros. Essa visão maniqueísta dos Arcanos, separando-os em positivos (e, portanto desejáveis) e negativos (portanto, totalmente indesejáveis) provém, ao meu ver, em muito do trabalho epidérmico que foi desenvolvido com as cartas a partir do momento em que se deixaram de considerar seus significados invertidos. Não consegui localizar o momento em que essa abordagem ganha peso; porém, uma demarcação, para mim, é o Tarot Thoth, do Aleister Crowley, ilustrado por Lady Frieda Harris. Esse baralho aponta para o não uso das lâminas invertidas, pois seu fundo, uma Cruz Cabalística, seria invertido junto com as cartas, fazendo com que perdessem o valor divinatório, que reside na não identificação prévia do significado das cartas. Conhecendo-as pelo fundo, certamente seriam evitadas as que estivessem invertidas, limitando o funcionamento do oráculo. Por sua vez, o texto de S. L. McGregor Matters, (O Tarot - Um Pequeno Tratado sobre a Leitura das Cartas, editado no Brasil pela Madras) de 1909, ainda fala sobre as cartas invertidas.



Ok. Sendo assim, o uso das cartas na posição correta, somente, é algo já do século XX. Deveras recente, aliás, se levarmos em conta que a adivinhação pelas cartas conta com pelo menos 400 anos. Uma evolução válida, mas cujo questionamento de sua eficácia deve ser mantido.
Particularmente, não uso as cartas invertidas. Mas já usei. Quando minha avó me ensinou a Cartomancia, só havia uma carta invertida, o Sete de Paus. O lado com cinco trevos significava "com muito gosto" e o lado com dois trevos significava "desgosto". Quando comecei a jogar Tarot, com o Marselha, as cartas possuíam significados quando na posição correta, geralemtne positivos, e invertiam-se quando a carta também se apresentava assim. Com exceção dao Enforcado, do Diabo e da Torre. Essas ficavam piores ainda (levando-se em consideração os juízos de valor feitos sobre essas lâminas), pois indicavam que o consulente não conseguiria antever a tempo suas influências.
Com o tempo, fui lendo outras obras, como o Tarot Mitológico (atualmente editado pela Madras, também) e percebendo a sutileza da influência das cartas, que não precisavam fisicamente estarem invertidas para terem seus significados alterados por fatores presentes na consulta, ou de maneira mais precisa pela casa em que se encontravam. E parei de usar, desde então, a inversão do baralho.
Ellen Cannon Reed, em seu Tarô das Bruxas (editado no Brasil pela Pensamento-Cultrix), relaciona as cartas diretamente à Árvore da Vida Cabalística, de tal forma que uma carta em posição normal indica a subida na Árvore, enquanto invertida, indica a descida pelo mesmo Caminho. Essa forma de ver as coisas não funcionou muito bem para mim não, pois Ver as situações pela perspectiva da Árvore da Vida implica ou em simplificação de experiências místicas, ou da supervalorização de acontecimentos corriqueiros. Difícil precisar qual seria pior. Para mim, pelo menos.
Agora, voltando ao tópico que motivou essa questão, usando as cartas invertidas fica mais fácil refletir sobre a sombra de cartas positivas como a Imperatriz e o Sol. Isso tem sido de grande valia para eu pensar em como vivenciaremos 2010, principalmente sobre o que deveremos evitar... Estamos com sorte, diante de uma carta como a Imperatriz. Mas... Tudo perfeito? Hmmm. Acho que não é bem assim que funciona. Devemos estar, também, preparados para o que não há de positivo (leia-se: fácil, rápido, eficiente e agradável) com o que nos depararemos no ano que vem.
Um grande abraço a todos, até o próximo post.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Mapa Tarológico


Olá pessoal. Na postagem sobre a promoção do Conversas Cartomânticas, acabei não deixando muito claro o que é o Mapa Tarológico. Falha minha. Conserto agora.


O Mapa Tarológico dialoga com duas outras vertentes de divinação: a Astrologia e a Numerologia. Porém, os dados lançados (data de nascimento e nome) não se referem a um potencial simbólico intrínseco, como é o caso da Numerologia (se você nasceu em 19/10/1985, como eu, teria como número de Lição de Vida o número 7, cujos significados já estão pré-definidos para tal análise, dentro de um horizonte de expectativas e significados [numerólogos, por favor, corrijam minha visão limitada. Obrigado.])


Por sua vez, ao chegarmos ao mesmo resultado, para a feitura do Mapa Tarológico, nos deparamos com diversos conceitos que emergirão ou submergirão durante toda a vida do indivíduo analisado.


Seguindo o mesmo exemplo, por ser 7, sou VII - por natureza, um Carruagem. Isso envolve uma série de possibilidades positivas e negativas (ou luz e sombra, ou favoráveis e desfavoráveis, ou qualquer outra possibilidade antitética de análise), relacionadas à minha personalidade.


O Arcano relacionado ao meu signo solar, Libra, é o Arcano VIII, o Ajustamento (pelo sistema que utilizo, oriundo da Golden Dawn e difundido por autores como Waite e Crowley. Não corresponde, por exemplo, ao Tarô Egípcio da Editora Kier, que representa Libra como o Arcano XII – O Apostolado). Mais alguns elementos de análise, oriundos do signo solar, que se relacionam com o meu Arcano regente – são consecutivos.


Meu Ascendente é Áries. A dupla Solar Libra/Ascendente Áries gera correspondência com a Carta da Corte Príncipe de Paus. Mais alguns elementos de análise.





Sendo assim, vejo o Mapa Tarológico como uma forma de (re)conhecimento de fatores analisados por outras disciplinas relacionadas ao autoconhecimento. Mas de uma forma mais ampla, oriunda da imagem que remete aos símbolos dessas diversas disciplinas, não se atendo exclusivamente a estas.


Reitero meu convite, portanto: até o dia 10 de dezembro, estarei recebendo as respostas à questão proposta para 2010: "Em 2010, o que lhe deixará pleno de poder e beleza?"
Inscrições aqui, na postagem original.



terça-feira, 24 de novembro de 2009

Norah Jones, The Fool and The Fall.



Olá pessoal. 17 de novembro. Norah Jones acaba de lançar seu mais novo CD de músicas inéditas, The Fall.
Desde o primeiro disco, Come Away With Me, de 2002, Jones atingiu a marca de 36 milhões de cópias vendidas ao redor mundo. Vencedora de nove prêmios Grammy, Norah conseguiu ainda que seus três primeiros álbuns ganhassem disco de platina. Duvido que neste caso será diferente.
As críticas em relação ao álbum tem sido as melhores (claro que com as raras – e neste caso específico, raríssimas – exceções que sempre temos, já que “boa música” é um conceito amplo demais para tantos críticos). Uma das melhores, para mim, foi a de Gonçalo de Palma: “"The Fall" é pop mainstream da melhor qualidade, com perfume de americana e consciência histórica da riqueza musical dos Estados Unidos. Ouvir Norah Jones neste álbum é como imaginar os Mazzy Star com maiores afinidades com o jazz e a soul. A estrela norte-americana canta miando - e fá-lo com uma sensualidade sempre quente.”
Mariane Morisawa, para a Marie Claire, escreve: “A maior parte das canções trata justamente de decepções amorosas, o que certamente tem a ver com o fim do namoro com o músico Lee Alexander. O sofrimento fez Norah Jones amadurecer e rejuvenescer musicalmente ao mesmo tempo. E faz de “The fall” um disco imperdível.”

Confira as faixas de The Fall:
2 - Even Though
3 - Light As a Feather
4 - Young Blood
5 - I Wouldn't Need You
6 - Waiting
7 - It's Gonna Be
8 - You've Ruined Me
9 - Back To Manhattan
10 - Stuck
11 - December
12 - Tell Yer Mama
13 - Man Of The Hour

Pouca coisa a dizer; como o Louco, the Fool, I’m fall. In love. Sem trocadilho.



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Postagem no Clube do Tarô: Os Vicios e a Cartomancia, parte III: A dependência química


Olá pessoal, em especial Vívian, que comentou a postagem precedente, sobre o alcoolismo: segue o terceiro texto de três, postado no Clube do Tarô, sobre a dependência química. Foi o mais difícil dos três textos, e aguardo suas considerações para melhorar minha visão a respeito.
Abraço a todos!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Os arquétipos do Tarot: O Tarot dos Orixás, de Eneida Duarte Gaspar




 Olá pessoal. Conversando um pouco nos comentários de uma postagem, recebi a sugestão de escrever sobre este baralho, e de tabela sobre a prática representativa das lâminas. Agradeço ao Carlos Deiró a sugestão do assunto. Thanks!
O Tarô dos Orixás: Senhores dos Destinos é uma edição bilíngüe (português/espanhol), editado pela Pallas Editora. É composto por 78 cartas, sendo que os Arcanos Maiores são policromados e os Arcanos Menores monocromáticos, cada naipe de uma cor: Paus, vermelho; Copas, verde; Espadas, azul; e Ouros, laranja.
Os Arcanos Maiores representam os Orixás, assim como a Corte. As cartas numeradas foram representadas com itens que lembram as práticas das religiões afro-brasileiras, correlacionados com os emblemas dos naipes. A Corte é representada por rostos, ao invés de corpos inteiros. É um baralho muito bonito. Há um interativo, promovido pelo Planeta na Web, que dá pra ser jogado, aqui.

Para mim, as cartas do Tarot são alegorias. Alegoria, grosso modo, são imagens que literalmente remetem a uma idéia, mas prefiguram outra idéia, também literal. Deixa eu explicar: Por exemplo, vemos um anjinho vendado, com carinha de safado, com um arco teso para flechar algo. Essa primeira idéia, literal, nos remete a uma segunda idéia, o Amor, conforme a mitologia sobre Cupido. Filho de Afrodite, divertia-se flechando Deuses e mortais, enlaçando-os em situações embaraçosas. Essa segunda idéia nos remete à terceira, prefigurada pela mitologia: o amor como uma força instintiva e poderosa, para além da compreensão intelectual humana, mas ainda assim, inexorável a sua existência.
Quando jogamos Tarot, interiorizamos a primeira idéia literal, ao reconhecermos as lâminas. Interiorizamos a segunda idéia, que prefigura a terceira. Mas a terceira, só nos é dada em relação à consulta que procedemos – pois é do contexto geral onde a imagem emerge que podemos entender seu real significado.
Para que isso ocorra satisfatoriamente, precisamos conhecer, (nos) identificarmos (com) as imagens. E por prefigurarem uma idéia maior, soma da imagem com o nome e por vezes o número (embora seja esse o item mais controverso – coloque lado a lado o Rider Waite, o Thoth Crowley e o Mitológico, que embora não seja numerado, segue uma ordenação), podemos representar a idéia de formas diferentes. Normalmente, remetendo-nos a mitologias.
Como as versões mais antigas que conhecemos remetem à Itália sua formação, podemos já perceber, em algumas lâminas, a presença de referenciais clássicos. Certas lâminas correspondem, salvo engano, aos Deuses Olímpicos – cito como exemplo a Justiça, em relação a Themis ou Athena.
Atualmente, com o fácil acesso à informação, diferentes tradições e culturas nos são apresentadas a todo momento. Nos últimos 59 anos vemos a ascensão da Wicca e da cultura celta, assim como do xamanismo, da cultura maia, hindu, japonesa, e por aí vai. Paralelo a esse processo, temos a valorização do negro enquanto etnia (é importante frisar, e eu FRISO MESMO, que o conceito de raça, para a espécie humana, NÃO EXISTE), e valorização das apropriações e interpretações do mundo feitas pelos nossos primos do outro lado do oceano. Certamente essas apropriações não foram feitas em um século, apenas, dado que desde o século XIV, pelo menos, a Europa já possuía contato com a África.
Todas essas transformações culturais afetaram, sobremaneira, a forma da humanidade ver a si mesma, da qual a arte é produto. O Tarot, como obra de arte que é, sofreu tais influências diretamente. Mantém-se a idéia do Arcano, preservando os atributos das cartas tradicionais, mas altera-se a personagem representada, de forma a, num jogo de aproximação e afastamento, trazer novas idéias ao jogo, preservando a tradição e sem perder em significado.
Claro que nem sempre isso funciona. E temos baralhos horrorosos que corroboram o que digo.
No caso deste Tarot dos Orixás (temos um outro, entre vários,  por exemplo, aqui, no Clube do Tarô), buscou-se manter a forma original dos Arcanos Maiores do Tarot de Marselha, representando os Orixás como personagens dessa trama. O baralho ganha em didatismo, aproximando dos significados e representações tradicionais personagens já conhecidos dos fiéis das religiões afro-brasileiras, propondo, pari passu, um afastamento, de maneira subjetiva, da visão européia, clássica, do mesmo objeto que temos na literatura sobre o assunto. É o que foi feito, por exemplo, no Tarot Mitológico, no Osho Zen Tarot, no Barbie Tarot (simmmm, existe um Tarot da Barbie simmmmm), no Gay Tarot, no Goddess Tarot, no Feng Shui Tarot, e em tantos baralhos que nem tenho como numerar. Visões de mundo oriundas de seus criadores que visam um didatismo maior às cartas, aproximando-as de pessoas com experiências semelhantes.
Eneida Duarte Gaspar foi primorosa na elaboração desse projeto voltado à realidade das pessoas de religião afro-brasileira. É importante destacarmos o trabalho sério da autora, pois é muito normal pessoas de má-fé, pouco conhecimento, pouca formação, ou um pouco de tudo isso junto, misturarem a prática cartomântica às práticas religiosas afro-brasileiras, como se tudo fizesse parte de um mesmo todo coeso (até faz, mas num nível tão mais sutil que nem vale a pena considerar para o nível dessa análise). Búzios, Tarot e Runas só tem em comum o fato de serem oráculos, linguagens de visão do momento presente por uma perspectiva ampla. O Tarot, para além dos outros dois citados, ainda por cima não possui nenhuma ligação com nenhum aspecto religioso. Qualquer atribuição religiosa ao baralho não passa de interpretação pessoal, não sendo digna de crédito enquanto dogma.
Nesse sentido, recomendo, e muito, o baralho de Eneida Duarte Gaspar para o iniciante na cartomancia que seja simpatizante das práticas afro-brasileiras, ou para o estudante do assunto, por ser didático, profundo em suas representações e válido, porque reinterpreta as lâminas, sem perder o foco da tradição, e sem conceder-lhes um status dentro das religiões afro-brasileiras que, efetivamente, ele não possui.
As cartas são:
O Louco Zé Pelintra
O Mago Ossain
A Sacerdotisa Nanã
A Imperatriz Iemanjá
O Imperador Xangô
O Hierofante Oxalá
Os Enamorados Oxóssi
A Carruagem Ogum
A Justiça Obá
O Eremita Omolu
A Roda da Fortuna Ifá
A Força Iansã
O Enforcado Logun'Edé
A Morte Baba Egun
A Temperança Oxumaré
O Diabo Exu
A Torre Tempo
A Estrela Oxum
A Lua Ewá
O Sol Erês
O Julgamento Pretos Velhos
O Mundo Caboclos




Nota em 07 de fevereiro de 2011: Conheci esse baralho, desenvolvido pela Artha Editora. Posto em breve acerca dele. Aguardem

Criatividade, ou: Amostras & Brindes Grátis... E a Cartomancia



O arcano maior chamado “O Mago” brotou do Tarot como um conselho para este particular momento, Emanuel. Ele vem sugerir a necessidade de uma quebra de rotina, experimentação de novas idéias, fazer diferente, tentar um outro curso de ação. Este é um momento propício para encontros inesperados e conversas libertadoras. A qualidade do momento demanda espanar a poeira e abrir-se ao novo. Muito estímulo intelectual lhe aguarda nesta etapa de sua vida, o que pode surgir na forma de livros que lhe são indicados, pessoas que surgem do nada pra bater um papo com você e lhe permitir um maior entendimento das coisas. É como se, agora, as coisas que você fosse ouvir (provavelmente da boca de gente que você nem esperava!) lhe permitissem uma libertação de uma forma antiga e superada de abordar as situações. Aproveite este dinâmico período!  
Fonte: Personare



Esses dias, recuperei, por acaso, o link de um blog antigo, o “É Hoje” (sim, fiz 2.000.000 de blogs, mas nunca levei tão a sério como agora. Acho que esse era o momento mesmo. Meus passos me trouxeram até aqui). E nele, vi uma das imagens mais lindas do Tarot Thoth (embora todas sejam lindas e essa ser minha opinião pessoal): I. The Magician. Um jovem dourado sorri enquanto, equilibrando-se nas pontas dos pés, faz malabares com alguns itens específicos. Um símio o assiste. Suas asas dos pés e cabeça são grandiosas, dando-lhe o equilíbrio necessário ao movimento.


Entre as palavras-chave que regem este Arcano, estão magia (hmmm), comunicação, diversão, criatividade, início, perspectiva, possibilidade, conhecimento, evolução. Levemos em conta que, pelo seu valor numérico – 1 – o Louco caminha pelos Arcanos através do Mago: para vivenciar a Sacerdotisa, o Louco torna-se Mago (0 passos dados+1 passo à frente=1) e o Mago Sacerdotisa (1 passo a frente +1 passo dado=2) que por sua vez torna-se Imperatriz (1 passo a frente+2 passos dados=3) e assim por diante. O Louco é novidade. O Mago é foco.

E esses passos são dados exercitando-se. Todo movimento é norteado pelo preparo, consciente ou inconsciente, para ele. E como nos preparamos? Adquirindo experiência, informação, conhecimento. Se exercitando o corpo ganhamos músculos, exercitando o cérebro ganhamos em inteligência, em raciocínio rápido, em cultura.


Para escrever esse blog, que é um constante desafio – eu realmente vejo possíveis postagens até nos meus sonhos! – eu tenho que me manter conectado com o que rola na blogosfera, assim como em assuntos que mostram-se inusitados, pertinentes, mas inusitados frente ao que sempre vemos escrito sobre Tarot por aí. Pois essa é uma conversa, e não podemos conversar assuntos repetidos, não é?


Nesse sentido, tenho me aproximado e seguido blogs que, entre imagens, textos e reflexões, trazem algo a mais para mim como pessoa que, a exemplo dos Modernistas e das abelhas, me alimento e por conseqüência alimento este blog. Muitos eu já citei por aqui; outros eu ainda não tive a oportunidade. Hoje eu gostaria de falar, em especial, do Amostras Grátis & Brindes Grátis.




Este blog é um vórtex de possibilidades de ganho de brindes. Sabe aqueles brindes que a gente encontra em horinhas de descuido, quando menos esperamos, e quando damos por nós a promoção já acabou? Pois bem, a equipe deste blog faz a gentileza de atualizar-nos em relação às promoções, mantendo-nos antenados e o que é melhor, facilitando nosso acesso inclusive a brindes do exterior. O que é mais bacana, sem dúvida, é o fato de que o blog é didático; com a experiência de quem sabe do que está falando, existem orientações para o preenchimento dos formulários e para a aquisição dos brindes, de forma ao usuário expormo-nos o mínimo possível ao risco de oferecer nossos dados a sites não-criptografados.

Por essas e outras, recomendado.

Ah, claro, você deve estar se perguntando: “Ok, Emanuel, e o que isso tem a ver com o Magician?” Simples. É desafiador pensar em temas que não tem, aparentemente, conexão nenhuma com o seu trabalho, e estabelecer ligações. A promoção criada por eles foi a fagulha que faltava para um brainstorm de dias!
Além disso, o bom cartomante não somente estuda suas cartas e livros relacionados; ele assiste filmes, novelas e seriados, lê muito, não só livros, como também revistas, folhetos, até bula de remédio; come bastante, de tudo um pouco, exercita seu corpo, sua mente, sua alma e seu espírito com tudo o que o cerca. Pois as cartas só poderão falar a Verdade se você conseguir entender o que é dito... E tem coisas que a experiência cala e que, mesmo que você reconheça nas cartas, jamais encontrará algo semelhante nos livros de Tarot.


Como por exemplo, fazer conexões de tudo e mais um pouco, com tudo e mais um pouco, e de vez em quando isso fazer sentido....

sábado, 7 de novembro de 2009

Uma Cartomante Vivendo a Vida




Estava eu no Twitter, quando vi uma mensagem de uma amiga, a Raquel, do blog Olhar o Luar, falando de uma cartomante na novela das oito (que começa as nove... eita vício de linguagem...) Viver a Vida, de Manoel Carlos. Não tenho seguido esta novela, pois fim de (último) período é sempre tenso. Mas depois dessa, fui atrás de informações a respeito.




A personagem, Regina, vivida por Cris Nicolotti, é assim definida no site oficial: “Mãe de Renata. Viúva, mora com a filha num modesto apartamento na Tijuca. Fica preocupada com o caminho que Renata está trilhando, pois seu ex-marido também abusava do álcool. Joga cartas para prever o destino, mas não cobra por isso. É uma mulher abnegada, de vida pessoal muito difícil e infeliz.”


Bem, um tanto caricata a figura. Lembra do que falei sobre a Cartomante do Machado de Assis? Parece que precisamos ter a aparência de poderosos, ou sofridos - tem que ser oito ou oitenta - , para que acreditem nas nossas cartas. Lembrando que poder e experiência não interferem diretamente na leitura física, que é a mais comum de vermos entre pessoas que acreditam no Dom.


Segunda coisa a constar, ela joga cartas para prever o destino. Vou lá fazer um estágio com ela [/ironia]. Além disso, a bio dela frisa o fato dela não cobrar pela consulta, outro assunto controverso entre os cartomantes. Merece até um post, só sobre esses dois aspectos.

E agora ela “previu” o acidente da Luciana (Alinne Moraes). Excerto do site:
O acidente de Luciana já havia sido previsto nas cartas. Regina pusera o tarô e vira que, além de muito sucesso, amor e filhos, a a filha de Tereza teria um acidente pela frente. Não era morte que via, mas algo cuja superação dependeria de muita força de vontade e dedicação da parte dela. E não é que o velho bordão estava correto? Sim, as cartas não mentiam. Será que elas têm sempre razão? Isso é um mistério...

Alinne Moraes fala um pouco a respeito:
"(...)Outras disseram que ouviram cartomantes e ainda outras que não tiveram nenhum tipo de revelação e que, se soubessem, talvez tivessem tomado outro caminho. Não dá pra saber ao certo o que é real e o que não é. O fato é que na história da Luciana ela foi avisada pela cartomante. Ela acreditou, mas não quis acreditar. Isso acontece. E também já estava marcada na sinopse de Manoel Carlos... Quer previsão maior que essa?"
Irônica, a moça... ¬¬"


Minha opinião pessoal: previsão do futuro, como a mídia quer, fica difícil. Creio que existam sim pessoas que são capazes de antever eventos, mas isso não acontece com a frequência que gostaríamos. Mesmo porque, ainda que seja uma frase cretina, tem lá seu sentido: "Se o(a) Cartomante é tão bom, porque a vida dele(a) não vai para frente?"


(Ixe, acho que o papo ficou tenso. Vamos desanuviar ouvindo isso aqui...)


Frasezinha cretina, como disse. Mas pensemos pela perspectiva do leigo: se o Cartomante possui um Dom, possui um Poder (com todos os limites que essas duas palavras possuem, suprimidos), porque não usa a seu favor? "Porque não pode, é para ajudar os outros", responderiam alguns. Ok. Agora, minhas amigas cozinheiras não podem comer da sua comida porque tem que cozinhar para os outros; meus amigos luthiers não podem fabricar instrumentos para si porque só sabem fazer para os outros; no limite, meus colegas professores podem ensinar, mas não podem usufruir do seu conhecimento!...?
Qual a diferença? Cozinhar não é um Dom? Ensinar também? Construir...?
Acho que o maior problema é a falta de distanciamento entre o Cartomante e sua prática, somada à sua ilusão de Poder. Se ele leva isso no senso de humor, as coisas são Vistas, vividas, assimiladas e compreendidas. 
Recentemente reli um jogo que fiz a quatro meses, para o segundo semestre de 2009. Depois de lê-lo, percebi que deveria tê-lo relido antes... E ri muito dos últimos acontecimentos.


Vamos tentar deixar de lado essa caricatura de Cartomante, por favor. Nós erramos. Muito, e frequentemente. Nós nos enganamos. Tem dias que as cartas parecem ter virado as costas para nós. Tem dias que procuramos as cartas desesperados por uma resposta. E não entendemos o que elas dizem. Nós falhamos.
Como todo mundo.
O que faz a diferença é que, a despeito disso, nós acertamos. Nós vemos. Nós VEMOS, assim mesmo, em caixa alta. Nós sentimos. Nós SENTIMOS, idem. E, quando um cliente vem em busca de auxílio, estamos aqui, prontos para auxiliar.
E o que é melhor: Acertamos MUITO MAIS FREQUENTEMENTE que erramos. Nos envolvemos, nos apaixonamos. As cartas passam a fazer parte de nós.
É nem por isso somos mais poderosos. Somos mais sensíveis, verdade; e o sensível tem que, obrigatoriamente, sofrer mais? Quer dizer que devemos viver num mundo ... hmmm ... "diferente"?
Ou devemos fazer desse mundo de todos os dias o trampolim de volta às estrelas de onde viemos?
Como todo mundo deveria fazer, se lhes fosse essencial como a nós é... 
Não quero uma imagem de poderoso, nem quero a de sofrido. São imagens, e como tais projeções que devem ser desfeitas.
Quero continuar fazendo meu caminho, e do meu caminho alento para os outros que assim desejarem. Pois como disse e a Sandra Ayana concordou: "Sou um caminhante, entre tantos outros. Mas eu tenho um baralho".
E que parceiro é meu baralho! =)


Abraços a todos, até o próximo post.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Quinquagésima postagem! O Tarot como tema de estudo: A escolha entre os diversos baralhos

Quinquagésima postagem! Nem eu acreditava que chegaria a esse número. Além disso, contamos, até o momento de escrita dessa postagem, com 4110 visitas desde julho. É um número muito animador!
Gostaria, portanto, de agradecer a você, leitor, por acompanhar minhas divagações e minhas viagens, enquanto tomamos chá e jogamos baralho. É isso que vale a pena!




Hoje decidi falar sobre um tema muito subjetivo, com consequências objetivas: a escolha do baralho de Tarot que utilizaremos em nosso trabalho. Atualmente, contamos com tantos baralhos que é difícil escolher de maneira objetiva qual seria o "melhor" para nós; sendo assim, a maioria dos autores recomenda a escolha subjetiva, "daquele que mais lhe agradar", ou escolher entre os baralhos ditos clássicos: Marselha, Rider-Waite, Thoth Crowley-Harris, Tarô dos Boêmios (confira a versão da Editora Pensamento [Tarô Adivinhatório] e a da Editora Ícone; existem outras). E nem todas as pessoas se sentem inspiradas a adquirir mais de um. A questão é que cada baralho de Tarot fala de uma maneira diferente acerca das mesmas coisas, dos mesmos conceitos que emergem da observação de determinado Arcano. Para citar um exemplo, recentemente, em um grupo de discussão sobre Tarot, foi lançada a seguinte questão: a mulher do Arcano Maior "A Força" abre, ou fecha, a boca do leão?



O que você acha?

Respondi que a questão era mais complexa. De acordo com o baralho utilizado, inclusive, seria impossível precisar - esse é o caso do Thoth, em que a mulher cavalga a Besta - ou mesmo o gênero do personagem muda, como é o caso do Tarot Mitológico e do 1JJ, onde temos representado Hércules vencendo o Leão de Neméia. Certamente todos os autores buscaram representar a idéia mais próxima que conceberam do Arcano; a visão de tais baralhos complementariza a nossa própria visão do mesmo, que seria limitada pelo acesso a uma só fonte. Poderíamos considerar "errada" tal e qual atribuição, simplesmente por não termos nos familiarizado com ela. “Certo” e “errado” possuem muitos degradées entre si.


Na escolha do baralho, temos duas opções: a opção de irmos do singular para o plural, ou seja, escolhermos nosso baralho, geralmente pela agradabilidade de suas lâminas, assim como a forma de leitura, e depois buscar informações concernentes às cartas - geralmente esse é nosso caminho, quando estamos iniciando nossa trajetória como tarólogos; ou então tentamos, a partir de diversos baralhos, verificar qual seria a representação que mais se aproximaria da realidade da nossa experiência pessoal do Arcano, daí desenvolvendo, com o auxílio de nossa prática pessoal nossa própria interpretação de tal lâmina. Ou seja, sairíamos do geral em direção ao particular. Essa interpretação perpassa a interiorização do significado dos Arcanos, de forma que possamos reconhecer certos "padrões representativos" para além da figura representada, diferenciando as características dadas pelo artista, pelo esotérico encomendante, daquelas que impreterivelmente seriam representadas - seria a busca pelo "feeling" dos criadores do baralho e o reconhecimento, ou não, dessas sensações e sentimentos em nossa própria visão do Arcano, que nos forneceriam elementos para utilizarmos, ou não, tal baralho em nossas práticas. É essa escolha que subjetivamente alguns tarólogos fazem quando mesclam cartas de diversos baralhos em um mesmo deck, ou quando desenvolvem um baralho próprio.


Nenhuma obra de arte é inocente; e o Tarot, sem dúvida, é uma obra de arte – plural. As diversas interpretações de suas alegorias simbólicas são prova viva disso, que seu valor não está sedimentado, mas sempre em revolução, sempre remexido, relido, representado de diversas formas, buscando diversos efeitos, seja mudando a atribuição semântica conforme veremos à frente, seja mudando a localização dentro da estrutura do baralho (no Rider, a Força é o Arcano VIII, entre a Carruagem e o Eremita; No Thoth, ela é o Arcano XI, estando entre a Fortuna e o Pendurado; e no Mitológico, que não numera suas cartas, ela está entre a Temperança e o Eremita), seja alterando elementos da figura para que a lâmina se encaixe dentro do contexto geral norteante da criação do referido baralho. Por exemplo, no caso d'A Força, até que ponto muda-se o sentido da lâmina se trocarmos a mulher por um homem? E se a mulher cavalga o Leão, ao invés de subjugá-lo? E se a carta muda de nome, como é o caso do Thoth ("Lust", traduzido por Luxúria, Tesão ou Volúpia) e do Egípcio Kier (A Persuasão)? E se ela muda de posição, como é o caso do Rider?


Particularmente, prefiro baralhos que me levem a vôos interpretativos, sem muito detalhamento de sua estrutura ou então passíveis de diversas interpretações; assim como o Tarot de Marselha, o Thoth serve-me perfeitamente por isso - diversos livros foram escritos, inclusive por seus criadores, e nenhum deles esgota o tema, antes abrem espaço para que alcemos vôos maiores. Outros são limitados exatamente pelo livro que os acompanha - há uma descrição precisa e minuciosa de seus elementos constitutivos, de forma que é difícil fugir de tais características, já que visam causar um efeito específico gerando uma interpretação específica.


Acredito que isso pode ser evitado com o estudo comparativo entre os diversos baralhos e os diversos estudiosos que nos precederam, para que tenhamos um vocabulário rico, iconografica e semanticamente, que nos permita leituras mais aprofundadas do que aquelas que o livro possui e nas quais muitos se engastalham e se apóiam, sem abrir espaço para novos questionamentos. Não estou dizendo que as cartas mudam de significado - cada carta possui significado único em relação às demais cartas. Digo que o conhecimento de outras fontes nos permite nos aproximarmos cada vez mais do significado intrínseco da carta através dos sinônimos utilizados pelos diversos autores assim como melhora nossa forma de comunicar ao consulente o que estamos Vendo durante a consulta.


Nesse campo, tenho duas sugestões de livros comparativos, que nos permitem verificar, em síntese, essa diferenciação iconográfica e semântica de diversos baralhos que visam culminar na mesma idéia, representante de determinado Arcano: o primeiro é o Desvendando o Tarô: estudo comparado dos tarôs e do baralho cigano, de Patrícia Fernandes (Pallas, 2003), que é muito leve, didático, preciso e claro; a autora buscou satisfazer, com esse livro, as dúvidas que assaltam a todos nós e que a assaltaram no período de sua formação como cartomante. O segundo é do Veet Pramad, Curso de Tarô e seu uso terapêutico (Madras, 2004), que, embora seja focado no Thoth, fala da representação em outros baralhos também, voltados para a interpretação terapêutica dos Arcanos.


Mas, voltando ao motivo do post, reitero que é importantíssimo conhecer, para quem se dedica à Cartomancia - à Arte de divinar através das cartas - diversos baralhos, não só como curiosidade, mas também como forma de compreender outras formas de ver um mesmo campo interpretativo através de outros olhares, formando em nós um olhar mais crítico, mais preciso, mais localizado sobre nosso próprio baralho. Independente do baralho utilizado, se a intuição estiver presente a mensagem que o consulente precisa ouvir virá; contudo, se nos dedicarmos à Tarologia (muito bem definida por Nei Naiff em sua apostila introdutória ao Tarô) precisamos ir além do nosso universo simbólico e expandi-lo em direção aos universos que permeiam outros cartomantes. Sugiro, como um ótimo começo, uma visita ao Guia de Tarô, desenvolvido pelo Giancarlo Schimdt, e as galerias desenvolvidas pela Taroteca, pela Jossana Camilo e pelo próprio Clube do Tarô - no primeiro temos os melhores links para pesquisa sobre as cartas, e nos demais temos diversos baralhos completos para admirar. Talvez assim possamos escolher nosso Tarot pessoal para além de sua "beleza aparente", tentando "homogeneizar" conceitos e sinônimos desenvolvidos para os Arcanos sem nenhum critério prévio.


Um abraço e até o próximo post.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Níveis de leitura das cartas


Olá pessoal. Muita gente acha que para ser cartomante é necessário ter um "Dom", ou coisa que o valha. Não concordo muito com isso. Acho que o dito "Dom", na verdade, corresponde a níveis de sensibilidade às imagens que compõem o oráculo. Por analogia, peguemos o xadrez: qualquer um pode aprender os movimentos, a disposição das peças, mas só alguém com vocação para enxadrista vai ter boa vontade e paciência para ficar horas bolando estratégias e revendo movimentos. Ou andar de bicicleta, quem sabe?, qualquer um aprende, mas quantos têm vocação para serem ciclistas? São muitos exemplos que mostram que o "Dom", na verdade, é disposição de seguir em frente com o aprendizado, depois de já ter entendido o processo. Qualquer pessoa pode aprender a ler os 22 Maiores, ou escrever os significados nas cartas do baralho comum, ou ler os poemas do Petit Lenormand. Acho super válido, inclusive - sempre incentivei meus alunos a escreverem em suas cartas do baralho comum. Mas, assim como é didático, é limitante, per se. Pense nos Arcanos Menores do Rider Waite: ao mesmo tempo em que nos inspiram informações sobre a essência da lâmina, nos limitam por sua própria representação. E o que dizer da nomenclatura dada por Crowley para os Arcanos Menores? Sete de Ouros é sempre... Fracasso? E só isso? Seis de Paus é sempre Vitória... e só isso?
Nesse sentido, é que acredito na vocação. É o desejo de ir além do oferecido (graciosa e belamente) pelos ocultistas e autores anteriores a nós. É o desejo de vivenciar a experiência do Arcano. Para o conhecimento do Arcano, os processos intelectuais bastam. Para a sabedoria do Arcano, dependemos da vivência.
Nesse sentido, apresento a visão de Silvia Theberge e Carlos Godo, sobre os níveis de leitura das cartas. Sincronicamente, encontrei esse texto em um backup que fiz entre 2006 e 2007. Engraçado, não?

Nível Físico

Ao nível físico corresponde uma interpretação literal das cartas, ou seja, pelo seu conteúdo gráfico, sem grandes preocupações intuitivas, pouco dependendo do grau de conhecimento ou de sensibilidade do intérprete. Trata-se de uma forma de leitura mais superficial, mais epidérmica, por isso mesmo mais conforme aos problemas do nosso dia-a-dia (…). Enfim, está em relação direta com nosso lado material, biológico, racional. Constitui a forma de leitura mais corriqueira, aquela comumente empregada pelos cartomantes e curiosos em geral.

Nível Mental
No nível mental em que começamos a nos aprofundar em nossas fronteiras abstratas, a interpretação já se faz vislumbrando a ação das forças e leis que regem a natureza, o cosmo. Aqui, a intuição começa a se mostrar, e o consulente começa a perceber suas relações com o mundo ao redor (e não mais apenas com o intérprete), as grandes tendências de seu futuro, porém já em termos de auto-avaliação. As experiências estético-sensoriais vão ocupando espaços antes preenchidos por sensações unicamente orgânicas. Em suma, o nível mental é o elo de ligação entre os dois extremos – o material e o espiritual.

Nível Espiritual
O terceiro e mais profundo nível, o espiritual, só faz sentido para aqueles que já se voltaram para o caráter eterno do ser, aqueles para quem o mundo material, com todas as suas atrações, já não exerce influência, ou, pelo menos, não mais ocupa lugar de destaque na escala de valores. Essas pessoas, tendo já transcendido suas limitações materiais, preocupam-se com sua parte imortal, passando a ter (e ser) um canal aberto aos planos superiores. Em tal situação, o estudioso do Tarô tem sua intuição extremamente aguçada, estando em condições de estabelecer suas próprias normas de conduta e de decidir sobre quais aspectos de sua vida deve interferir para obter maior crescimento espiritual e energético. Rompeu o ego, libertou o eu…


E você? Em que nível está?