segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Super Interessante: Excerto.

Retirado da Super Interessante 005, de fevereiro de 1988.


As cartas marcadas do tarô

Como surgiu, o que significam as cartas.

São 78 cartas cheias de simbolismo com uma história milenar. Sua leitura sobreviveu aos séculos e está em plena moda. Para os céticos é só um jogo de adivinhação. Para os iniciados nos seus mistérios, é uma forma de autoconhecimento.

Por Maria Inês Zanchetta

Atores, empresários, profissionais liberais, artistas plásticos enfim pessoas das mais diferentes atividades têm em comum o costume de freqüentar um certo apartamento amplo e ensolarado no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Ali trabalha um carioca de 30 anos, solteiro, olhos muito azuis, chamado Marcos da Silva Bordallo. Só que nenhum desses visitantes o trata pelo verdadeiro nome. Para eles Marcos é Namur ou melhor, professor Namur. E se o procuram é porque esperam receber uma orientação que os ajude a organizar melhor suas vidas e seus negócios. Engana-se quem imaginar que o tão requisitado Marcos-Namur é algum conselheiro espiritual ou psicólogo com formação psicanalítica.
O que ele faz, cobrando cerca de 4 mil cruzados a primeira sessão, é dar as cartas. Pois o auto-intitulado professor é um tarólogo, por sinal o mais badalado do Rio, ou seja, um especialista em tarô o misterioso baralho que, segundo os adeptos, faz as pessoas se conhecerem melhor e a partir daí terem uma boa idéia do que o futuro lhes reserva.
Os crentes nos poderes do tarô e dos tarólogos formam uma espécie em expansão. Mas o jogo é muito antigo. A própria palavra tarô, do francês tarot, viria do velho Egito, onde o baralho teria surgido, significando roda ou caminho. A história do jogo é tão obscura como o nome. Sabe-se que em 1392, Carlos VI, rei da França, encomendou por um bom preço ao pintor Jacquemin Gringonneur três pacotes de cartas. A primeira descrição de um baralho de tarô, porém, só apareceu séculos mais tarde. Seu autor foi o teólogo protestante francês e historiador Antoine Court de Gébelin (1725-1784). No primeiro dos nove volumes de sua obra Le monde primitif, Gébelin afirma que as cartas do tarô foram extraídas do Livro de Thoth (um deus egípcio).
No século XVIII, em plena Revolução Francesa, o jogo de tarô tornou-se moda nos salões parisienses e uma certa Mademoiselle Lenormand era o que é hoje no Rio o professor Namur lia nas cartas do tarô o destino de gente importante da época. Entre seus clientes estavam os líderes revolucionários Robespierre e Saint-Just. Diz-se que Mademoiselle Lenormand previu a morte dos dois na guilhotina o que talvez não fosse uma proeza, dada a facilidade com que se cortavam cabeças na França daqueles anos. Mas, se ela de fato previu a decapitação, nem Robespierre nem Saint-Just puderam fazer qualquer coisa para evitá-la e isso dá o que pensar sobre a utilidade de se conhecer o futuro.
Conta-se também que, anos mais tarde, Napoleão tornou-se assíduo freqüentador de Lenormand. Esse pelo menos sabia lidar à sua maneira com o futuro desvendado pela taróloga: quando as previsões o desagradavam, mandava encarcerá-la por uns tempos.
Boa parte do charme do tarô, o que ajuda a entender sua longevidade, está nas próprias 78 cartas que compõem o baralho. Elas se dividem em dois grupos: os 22 arcanos maiores fundamentais na interpretação e os 56 arcanos menores, que complementam os outros. A palavra arcano vem do latim arcanu, que quer dizer segredo, mistério, e cada um deles representa uma figura simbólica diferente. Por exemplo, o arcano IV (os praticantes usam a numeração romana), chamado imperador, simboliza o homem objetivo, materialista, organizado.
O professor Namur ensina que o tipo de homem simbolizado pelo imperador gosta de ser o provedor do lar, mas não se detém para tentar entender o que o outro está vivendo; geralmente é pão-duro, mas se orgulha de pagar as contas em dia; é também machão e moralista dentro de casa; ansioso e ambicioso, sonha com segurança; gosta da sacerdotisa (arcano II), que simboliza a mãe e a esposa, mas também da imperatriz (arcano III), símbolo da mulher independente, que trabalha fora, mas de quem ele finge não gostar. Se a carta do imperador sair para uma mulher, isso pode significar que procura imitar o pai.
Há uma certa carta o arcano XIII que de tão assustadora nem tem o nome impresso: é a figura da morte. Mas a morte pode não ser tão feia como a pintam. Segundo uma tranqüilizadora interpretação, essa carta simboliza o renascimento, as transformações pelas quais a pessoa está passando. Tudo depende de quem lê o tarô e, para complicar ainda mais as coisas, os métodos de leitura mudam de um tarólogo para outro: há quem utilize apenas os 22 arcanos maiores, por achar que isso facilita a consulta e a comparação com a leitura anterior, quando o cliente volta; outros preferem usar todas as cartas e certamente devem ter para isso motivos tão relevantes quanto os dos que optam pela versão resumida: é tudo uma questão de crer para ler.
Naturalmente, o jogo de cena no ato da leitura é da maior importância como convém a um ramo do ocultismo que tem a pretensão de entender a personalidade humana a partir do acaso de um sorteio de cartas. Namur, por exemplo, usa uma mesa de tampo preto, porque as cores das cartas se realçam, pulam e ajudam na concentração, como diz. Outros tarólogos preferem rituais mais elaborados. É o caso do uruguaio cujo apelido é Kucho e que prefere não revelar seu verdadeiro nome. Há 22 anos no Brasil e desde 1975 no ramo do tarô, ele usa uma pele de animal amarelada para cobrir a mesa de trabalho, numa saleta pouco iluminada, no porão da casa onde mora, no bairro do Pacaembu, em São Paulo.
Alto, moreno, com os traços herdados da mãe índia e do pai espanhol, Kucho cobra uma quantia simbólica para ler o tarô (ele diz que trabalha na produção de comerciais e de cinema), jamais tira cartas para si mesmo e só opera com baralhos que tenham atravessado o oceano. Isso não faz diferença alguma para o carioca Namur, que se declara criador do primeiro tarô latino-americano, um baralho desenhado pela argentina Martha Leyros, em cores vivas, bem diferentes dos tons pastel do clássico baralho francês. O nosso tem vida, emoção, chega a suar, entusiasma-se Namur.
Existem mais de mil baralhos diferentes de tarô, uma variedade à altura do número de métodos de dispor as cartas pelo menos quinhentos. Namur, por exemplo, as dispõe em círculo, na forma da mandala que em sânscrito significa círculo mágico. Kucho, por sua vez, as coloca na posição astral, de acordo com as casas do zodíaco. Dispor as cartas em linhas horizontais é o método utilizado pela taróloga paulista Claudine Cardoso. Mãe de três filhos, ela conta que aprendeu a mexer com o tarô aos 7 anos, quando ganhou um baralho da avó.
Também o número de cartas que o cliente tira, o número de rodadas e o tempo gasto na leitura variam. Para Namur, que se considera bom entendedor, doze cartas e uma rodada bastam. Já os clientes de Kucho devem escolher 28 cartas em quatro rodadas; na última, se quiserem, podem fazer perguntas. Claudine interpreta no mínimo 44 cartas. Mas nenhum deles gasta menos de uma hora na operação. Nesse complicado jogo as interpretações dos arranjos que as cartas formam variam de acordo com cada pessoa e a situação que ela vive em determinado momento, dizem os tarólogos. Por isso, se o ermitão (arcano IX) sair para uma criança, poderá simbolizar timidez; já para um homem de 50 anos será símbolo de riqueza interior.
O enforcado (arcano XII), brinca Namur, é o arcano do brasileiro, sempre com a corda no pescoço. Normalmente, os tarólogos não brincam em serviço, certamente para manter a aura de seriedade em torno daquilo que para os mais desconfiados não passa de um jogo antigo, complexo e sofisticado, mas apenas um jogo. Para o professor Namur, os fundamentos do tarô são o pensamento mágico, não racional, e a intuição seja lá o que isso signifique. Os tarólogos tomam o cuidado de advertir aos mais deslumbrados que o tarô não é um jogo de adivinhação do tipo bola de cristal.
Aponta caminhos, mas não dá soluções. Por isso, quem consultar um tarólogo na esperança de descobrir o que vai acontecer no dia seguinte estará perdendo tempo.
A verdadeira intenção do tarô, teoriza Namur, é fazer com que as pessoas se auto-analisem, já que as cartas mostram o que está ocorrendo com elas. Ele afirma que se as pessoas não souberem mudar sua relação com o passado, cuja resultante é o presente, acabam se repetindo; então não adianta mudar de marido, de emprego ou de casa, pois o problema permanece o mesmo. Curioso do tarô, o escritor Caio Fernando Abreu, autor de Morangos mofados, conta que na primeira vez em que consultou um tarólogo ficou espantado porque entre tantas cartas saíam exatamente aquelas cuja interpretação tinha a ver com o que eu estava vivenciando.
Ao que parece, o tarô e mesmo o I Ching o livro das mutações que surgiu na China no período anterior à dinastia Chou (1150-249 a.C.) têm como meta principal levar as pessoas a refletir sobre o que estão vivendo. Talvez por isso, um dos fundadores da psicanálise, o suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), tenha se interessado pelo tarô, entre outras simbologias. Seja como for, o fascínio que as várias formas de esoterismo exercem sobre as pessoas independe de sexo, religião ou atividade. Os homens, na maioria, procuram tarólogos para saber de dinheiro e negócios. Já as mulheres se preocupam com o trabalho e as questões afetivas. A curiosidade que o tarô sempre despertou nos artistas moveu o pintor espanhol e mestre do surrealismo Salvador Dali a desenhar um baralho.
Na literatura, a simbologia contida nessas cartas foi tema de poemas do francês Gérard de Nerval (1808-1855) e do norte-americano T.S. Eliot (1888-1965). E o pintor sergipano; radicado no Rio Antônio Maia, que sempre retratou temas ligados à crendice popular, decidiu comemorar seus 60 anos em outubro próximo com uma exposição de 22 telas, onde estarão pintados, em bom tamanho, um a um, os arcanos maiores do tarô. 




Box da reportagem:

Esse futuro que não chega nunca.

Por Luís Weis

Desde o começo dos tempos, brinca Woody Allen, o homem vive às voltas com algumas dúvidas insuperáveis: quem sou eu, de onde vim e onde será que vamos jantar esta noite. Ainda mais do que isso, o que as pessoas querem saber de verdade é o que lhes reserva o dia de amanhã. A busca insaciável do futuro, velha como o medo e a esperança, faz a felicidade dos tarólogos, jogadores de búzios, quiromantes, astrólogos, cartomantes e videntes de todas as categorias quando se trata de mexer com o desconhecido, jamais algum deles deve ter perdido dinheiro subestimando a credulidade alheia.
O que nem sempre se percebe é que correr atrás do futuro é fazer como o cachorro que dá voltas atrás do próprio rabo. Não se trata nem de dizer que é preciso estar muito aflito ou ter muita boa vontade inocente para acreditar que o futuro pode ser previsto pela magia ou pela ciência, assim ou assado. O problema é outro. Se o futuro já está pronto e acabado em alguma misteriosa dimensão das coisas, podendo portanto ser conhecido por qualquer vidente cinco-estrelas como parecem achar os que acreditam que a vida é apenas o desenrolar de um destino imutável , então que valia tem conhecer algo que não se poderá modificar? Ou, se o futuro só fica pronto quando acontece, como dizem os partidários da idéia de que são as pessoas, a cada escolha que fazem, que vão construindo sua história, então é possível conhecer algo que se modifica sem cessar?
No fundo, muita gente intui que não existe saída para esse paradoxo do contrário, bastaria ter uma bola de cristal desembaçada para fazer a quina da Loto toda semana e ainda assim freqüenta seus videntes de estimação. É que nesse ato, nesse jogo, a ansiedade diante dos rumos da vida encontra algum alívio. Se o ocultista procurado não for um charlatão, a pessoa poderá até sair dali com algo de valioso em troca do seu tempo e dinheiro. Se um tarólogo lhe disser que ela fantasia muito, exemplifica o psiquiatra Antônio Carlos Cesarino, certamente a pessoa vai parar para pensar nisso, e tudo que ajuda a refletir é bom.

Guia do Tarô

Olá pessoal. Não sei se já aconteceu com vocês... de ser enganado e gostar da ideia?
Hoje isso ocorreu comigo.


Passei na banca para ver se havia alguma publicação sobre Tarot para indicar para os meus alunos, e me deparei com o livro Guia do Tarô: As cartas, seus símbolos e interpretações, de Maria Cecília Amaral (até procurei algum release desse livro no site da editora Escala, mas só achei este aqui. Se alguém souber a respeito desse livro ou quiser opinar estarei à disposição. Também tentei contatar a autora, mas sem êxito). Pensei bem, para não comprar por impulso, mas depois, pensando melhor, era o Rider-Waite... Eu ainda não tenho... Eu ainda não tinha.
Esse baralho foi estruturado para aprendizes, mesmo. O problema é que é um baralho formado por algumas estruturas questionáveis, se levarmos em conta a história de tais imagens. Não posso dizer o quão válidas são, já que nem testei, ainda; mas sei que, para quem quer uma pureza de jogo, não é o melhor baralho.


Os Arcanos Maiores pertencem à estrutura do Rider-Waite Tarot deck...


...mas preste atenção à numeração d'A Justiça e d'A Força. Não corresponde ao baralho original. Não tenho meu Rider-Waite. Ainda.


As cartas numeradas correspondem ao baralho convencional; não possuem as ilustrações do Rider-Waite. Mas é justamente aí que a parte bacana começa.


Dá uma olhada nessa Corte!
Não conheço a procedência dessa Corte, mas é claro e evidente que não é de um baralho inglês. Vou procurar referências francesas e holandesas para essas imagens. Ou, se alguém conhecer esse baralho...
Agradecerei as referências.

A parte divertida, ou melhor, a parte onde ser enganado é divertido - eu não comprei um Rider Waite, mas um mestiço! - é que agora tenho um baralho para estudar as cartas comuns e um jogo de 22 cartas de Tarot. Não é o que eu queria, mas ganhei um baralho muito bonito!
Ou a Taça está meio vazia... ou meio cheia! E meu ponto de vista vocês já entenderam qual é!

Nem folheei o livro que acompanha, ainda. Assim que tiver um posicionamento a respeito, posto aqui.
Abraços a todos.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Venus as a boy.... Cavaleiro de Copas?

Olá pessoal. Num daqueles acasos mais que impressionantes, encontrei essa música, da Björk. Não é uma boa definição do Cavaleiro de Copas?


His wicked sense of humour
Suggests exciting sex
His fingers focus on her
Touches, he's venus as a boy.
He believes in beauty
He's venus as a boy
He believes in beauty
He believes in beauty
He's venus as a boy
He believes in beauty
He's exploring
The taste of her
Arousal
So accurate
He sets off
The beauty in her
He's venus as a boy
He believes in beauty
He's venus as a boy
He believes in beauty
He believes in beauty
He's venus as a boy
He believes in beauty


Abraços a todos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Análise da posição das cartas num jogo. Robert M Place e o Tarô dos Santos


Olá pessoal. Enquanto eu produzia a apostila do curso que iniciarei no próximo sábado, conferindo os alfarrábios atrás de referências e informações complementares, encontrei esse excerto do livro Tarô dos Santos, de Robert M. Place (Agir). Muito bacana de ser estudado, sobretudo em baralhos inspirados no Rider-Waite, como esse, ou na leitura de Arcanos Maiores e Cartas da Corte, em jogadas lineares de três e cinco cartas.
Para quem se interessar por tais arquétipos, existem os seguintes jogos online: este aqui e este aqui.

Em qual das categorias você acredita que as três cartas acima se enquadram?

Dada a posição dos olhares, podemos supor seis possibilidades de análise do conjunto, que ampliam nosso olhar sobre as cartas:
1. Linear: as cartas podem mostrar uma história que começa à esquerda e termina a direita, ou vice versa. As figuras tenderão a olhar na mesma direção. 
2. Rejeição: as duas figuras das pontas devem ficar de costas uma para a outra, indicando que a figura central está mudando de lado e aquilo que ela simboliza está mudando de lado também.
3. A origem central: talvez a figura central esteja olhando diretamente para você, com as cartas de cada lado viradas para “fora”. Isso pode indicar que a sequência começa no centro e se direciona para ambos os lados. Da mesma forma, se apenas uma das cartas dos lados olha para longe, para fora, a ação é apenas para um lado.
4. O destino central: quando as figuras das pontas estão olhando para o meio, a ação deve começar em ambos os lados e convergir para o centro. A figura central pode estar olhando para você ou a direção do olhar pode estar em um plano mais elevado.
5. O problema central: a carta central pode também bloquear a energia ou dispersá-la. O oito de Espadas pode representar um bloqueio; o sete de Espadas, dispersão.
6. O ensinamento central: a figura central pode ser instrutiva, como também apontar para duas possibilidades ilustradas pelas cartas que a rodeiam. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Curso intensivo de iniciação ao Tarot


Olá pessoal. Cá está o banner do curso que darei na Casa da Cultura Godofredo Rangel, em Três Corações. Esse curso está voltado para uma apresentação do Tarot como oráculo de uma forma prática, com seus significados usuais sendo veiculados ao cotidiano dos participantes, de forma a, mais que jogar, ser possível viver o Tarot nessas quatro semanas de curso, com encontros aos sábados.
Fortuna a todos nós.
Abraços a todos. 

domingo, 23 de janeiro de 2011

Blogagem coletiva: Tendo um treco! Arcanos que apavoram



Você é um bom oraculista, conhece seu instrumento, tiradas, símbolos... Mas, sempre tem aquela carta, aquele signo que você não queria que estivesse alí. Então, perguntamos para a primeira blogagem coletiva de 2011: qual arcano te faz ter um treco quando aparece na leitura?


É pessoal, as meninas sempre surpreendem com os temas...
No microssegundo após ler a proposta já tinha minha carta medonha em mente: Dez de Espadas. Ô cartinha encardida!
Contudo, após refletir um bocado, pensei em escrever sobre algumas cartas. As ditas "piores", conforme a literatura que eu conheço, no Tarot, no Baralho Petit Lenormand e no baralho comum.

Sendo o Tarot composto por três estruturas interdependentes, a saber, os Arcanos Maiores, as Cartas da Corte e as Cartas Numeradas, escolhi falar sobre uma carta de cada grupo. Certamente não estou querendo encontrar essas cartas juntas em nenhum momento desta, ou de qualquer outra, encarnação.


Nos Arcanos Maiores, a Torre.Tudo bem que é a carta da cirurgia e da cura, mas vamos combinar que ela é uma carta muito densa. Quatro vezes quatro. O número da matéria ao quadrado. O quadrado do quadrado, a prisão por excelência. Talvez por isso seja relacionada com a Bastilha - e a queda desta. Vocês não sabem o quão chateado eu fiquei quando vi o Tarô Mitológico pela primeira vez, e vi que essa era a carta destinada a Poseidon! Depois eu entendi o que isso queria dizer. Poseidon realmente é ciumento e irascível.


Mas, independente do baralho escolhido, a Torre é muito difícil de ser interpretada de forma leve. Ela tende a tornar a leitura revolucionária, no sentido etimológico de revolver as estruturas criadas pelo consulente para o seu conforto. Acho que foi isso que o Shaman quis dizer com o clipe Fairy Tale (Dá uma olhadinha por volta dos 2'00)



Nas Cartas da Corte, temos duas em especial, mas me dedicarei apenas a uma: Rainha e Valete (Princesa) de Espadas, sendo que falarei desta última. 



O Valete representa a intriga. Quem é que diz que o "que vem de baixo não atinge"? Atinge sim! Que diga a Princesa elaborada por Crowley, que está voltada para cima, ainda que o maior perigo esteja no terreno onde seus pés não encontram apoio!



São sussurros, são ventilações maldosas sobre nossa natureza e comportamento, que nem sempre carecem de fundamento. Por vezes, uma palavra (mal) dita pode dar pano para manga de vestido de noiva cigana! Essa carta pede o comedimento, não só por este ser uma virtude, mas porque, nesse caso, é o único meio de ter alguma chance de sobreviver ao açoite sem osso de uma lingua ferina.



A pessoa representada por um Valete de Espadas nem sempre tem consciência que seus ataques advêm de uma falta de refereciais internos. Afinal de contas, quando passamos a cuidar de nossa própria vida, pouco tempo, ou mesmo tempo nenhum, sobra para cuidarmos da vida dos outros.

Nas numeradas, temos várias para pensarmos, de acordo com a postagem, tenho que escolher a que mais me assusta. Bem, no caso, o Dez de Espadas, a Ruína, para Crowley, é para mim de longe a mais assustadora. Poderíamos falar do cinco e do sete de Ouros, do três e do nove de Espadas, do sete e do oito de Copas, do Dez de Paus; mas como o Dez de Espadas, acho que não temos referência.



Ô cartinha encardida!


Derrota, ruína, falha, perda, escândalo, vexame, tudo o que possa afetar nossa imagem, nosso ego, nossa existência. Acidentes, atrasos, perdas, roubos, ataques inesperados. Complexo de autodestruição. Horrível de se ler!
Seus melhores aspectos decorrem da transformação que isso proporciona em nossas vidas. Tudo vem abaixo para que possamos enxergar o que estávamos fazendo de nós mesmos. É bem o que o Jack faz quando descobre quem é Tyler Durden, em o Clube da Luta. Mete um tiro no meio da boca.



(Ok, se você não viu o filme, saiba que isso não é um spoiler. Nem a frase, nem o vídeo; só assistindo o filme para entender.)


No Petit Lenormand, nem tem muito o que pensar: A carta 08 é de longe a que mais assusta, só de ver! Tanto é que possui mais representações diferentes que qualquer outra carta desse baralho. Pode ser uma vela, uma caveira, mas comumente é um caixão, mesmo. 
No poema da carta, temos, em tradução livre: Caixão, é má sorte / é doença ou morte. / Se o caixão está afastado / menos negativa esta carta é.




A tentativa de suavizar essa lâmina, inclusive, levou alguns artistas a representarem esquifes egípcios. O que, fora a egiptomania que se alastrava pela Europa e pelo mundo na época em que este baralho estava sendo desenvolvido, não tem nenhum sentido.


Um adendo: olha essa versão do Lenormand que eu achei! Inspirado diretamente no Rider-Waite, desenvolvido por Edmund Zebrowski. Muito bacana!


Enfim, essa carta representa morte, doença, perdas, roubos, o que há de denso e negativo na vida e no cotidiano. Contudo, com a 09, o ramalhete, aponta para vivências passadas - ou, no caso de um consulente que não tenha abertura para esse tipo de conversas, fatores inconscientes, possivelmente provenientes da infância, manifestados no tempo de jogo. De qualquer forma, é um resgate para uma posterior limpeza de um espaço psíquico na vida do consulente. Mas uma limpeza que é bem desagradável... Ainda que necessária.




Já nas cartas comuns de jogar, pelo método que minha avó ensinou, as cartas mais complicadas são a Rainha de Espadas - que pode tanto representar a mulher intrigueira quanto a intriga em si -, o 5 de Espadas (doença) e o Sete de Paus invertido (desgosto). Achei por referência à Cartomancia essa carta ilustrada, onde o Cinco de Espadas, mais que doença, tem por nome... Morte. Sem a suavidade do Arcano Maior homônimo.
Creio que seriam essas. Contudo, depois de apresentá-las, é importante ressaltar algo em negrito, itálico e caixa alta: 


1. TODAS AS CARTAS SÃO NECESSÁRIAS AO BARALHO, E É NA MÃO DO BOM CARTOMANTE QUE ELAS DIRÃO A VERDADE, SENDO MAIS SUAVES OU MAIS INCISIVAS, DEPENDENDO DA TIRAGEM UTILIZADA E DA PERGUNTA FORMULADA.
2. TODAS AS CARTAS MOSTRAM-SE RELATIVAS ÀS FUNÇÕES DADAS A ELAS DENTRO DE UM JOGO. 
3. UM BOM CARTOMANTE DEVE TRANQUILIZAR SEU CONSULENTE, PREPARANDO-O PARA TOMAR POSSE DE SUA VIDA APÓS O DIAGNÓSTICO DAS CARTAS, INDEPENDENTEMENTE DESSE DIAGNÓSTICO SER BOM OU RUIM.


Ufa! Recado dado!
Abraços a todos!






domingo, 16 de janeiro de 2011

Conversas Cartomânticas: A Runemal Amanda Izidoro

Olá pessoal. Com essa postagem, iniciamos mais um tópico de nossas Conversas Cartomânticas. Depois da blogagem coletiva "Quem fala com você?", eu busquei mais informações sobre as Runas com alguém que amo e confio. Com vocês, Amanda Izidoro, jornalista, escritora e Runemal (quem joga Runas; há quem diga Runóloga. Fique a vontade para escolher a nomenclatura que mais lhe agradar).


Quem não conhece os versos de Drummond sobre haver pedras no meio do caminho? Para avivar a memória:

No meio do caminho 

    No meio do caminho tinha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    tinha uma pedra
    no meio do caminho tinha uma pedra.

    Nunca me esquecerei desse acontecimento
    na vida de minhas retinas tão fatigadas.
    Nunca me esquecerei que no meio do caminho
    tinha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    no meio do caminho tinha uma pedra.

No meio do meu caminho, graças a Deus, tinham muitas pedras. Lindas, azuis, com desenhos. Minhas runas, que eu também não me esquecerei do dia em que as vi pela primeira vez.
Foi um presente da minha “irmã” Raila. Num aniversário, há cerca de 10 anos, ela disse que havia encontrado algo que era a minha cara. Mas eu teria que esperar um pouco, porque a encomenda não havia chegado. Esperei por 8 meses. Em agosto o presente chegou e eu fiquei enfeitiçada pelas pedrinhas. Varei noites na Internet estudando tudo o que encontrava para aprender a jogar. E depois de um tempo, mandei tudo o que li para um canto obscuro da minha mente.


Runas é intuição. A teoria é excelente para você conhecer o significado de cada símbolo. Mas só isso. Cada pessoa que eu conheço que joga runas, tem um esquema de jogo diferente. Já vi pessoas jogarem runas com ossos, pedras, sementes e baralho. (Sim, Manu, eu já tive um baralho de runas que, se não me engano, dei de presente para a Lud.)
Demorei muito tempo para criar coragem e encarar as runas como algo sério e definitivo na minha vida. Mas, parafraseando J. K. Rowlling e a história da varinha escolher o bruxo, é o oráculo que escolhe o vidente e não o contrário...


As pedras me escolheram de alguma forma que eu não saberia explicar (pelo menos por enquanto), e fugir delas foi o pior caminho que eu podia ter trilhado. Assumo que no dia que as retirei do saquinho de veludo preto com um pentagrama dourado bordado por mim, meus caminhos tornaram a se abrir.
Talvez seja esse o enigma. Eu preciso de caminhos abertos para abrir os olhos (e os corações) das pessoas. Porque as runas não respondem perguntas como o tarot. Elas dão conselhos. Elas indicam possibilidades. Mas só falam daquilo que querem (ou podem) falar. E nada mais! 

Um oráculo limitado? Acho que não... Acho que amplitude das pedras é demasiada para nossa visão. Elas dificilmente erram. O Manu está aí e pode provar... Na nossa última consulta ele até gravou minhas interpretações. E como não me puxou a orelha até o momento, acho que é porque não errei em nada...rs...
Eu não sei se Drummond conheceu as runas. Mas posso apostar que quem conhece, como vidente ou como consulente, vai passar a interpretar seu poema de outra maneira.

É pessoal. Para quem ainda não percebeu, Manu sou eu, que vos falo. ^^
Então, cá abrimos outro caminho. Com a Amanda, cujas Visões nesse oráculo são tão precisas, ainda que alegóricas; só jogando com ela para entender. Sei, porque jogamos sempre que podemos - o que é raro, e belo pela raridade; válido, porque quando nos encontramos, sabemos que as lições de nossas Conversas foram apreendidas e estamos prontos para novas aventuras.
Um prazer te ter por aqui, Amanda.
Abraços a todos, até o próximo post.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O Arcano XXIII: O Esquilo Feliz

Olá pessoal. Esses dias, no Facebook, a Pietra postou essa imagem aqui:




E eu fiquei pensando sobre o que quiseram dizer com "...e o Happy Squirrel? =P".


Conforme o site do Touchstone Tarot, o Happy Squirrel teve sua primeira apresentação em um episódio dos Simpsons, Lisa's Wedding. Pelo contexto do que li (não achei nenhum vídeo dessa cena no YouTube; achei essa aqui, dos SonSimps - uma versão cômica (?) dos Simpsons - confira a partir dos 49" até os 1'15"), a carta é uma sátira a um hábito nosso, como Cartomantes, que deve ser muito irônico para os leigos: olhar uma carta como a Morte e o Diabo... e sorrir. Estamos tão acostumados com seus melhores significados que perdemos a sensibilidade ao peso dos conceitos arraigados aos nomes de tais Arcanos. A Cartomante olha para a Morte e faz o que, mais de uma vez, eu tive que fazer: dizer "calma, não é tão ruim assim, deixa eu interpretar". Por outro lado, ao ver o Esquilo Feliz (!) ela se assusta com toda a pantomima possivel, o que leva-nos a pensar que é uma carta... complexa.


O engraçado é que alguns ilustradores levaram isso a sério (confira aqui alguns exemplos, aqui o do Shadowscapes, aqui o Touchstone, aqui o Phantomwise). E, inclusive, essa carta virou tópico de discussão!
Ainda que em todos os sites consultados tenhamos uma nota informando ser essa lâmina uma brincadeira, será que existe quem a use em consultas? Kat Black sugere para essa carta o significado de Lighten up. Do not take yourself, or anything, too seriously. There are no simple answers, life is very complicated and the most important thing is to take joy in the journey (tradução livre: Iluminar-se. Não leve a si mesmo nem nada muito a sério. Não existem respostas simples, a vida é muito complicada e que o mais importante é levar alegria na jornada.) Acho esses significados tão próximos ao Louco!


Esse não é o primeiro Arcano contemporâneo que vejo. No Osho Zen Tarot temos O Mestre. Arcano sem número, que nos mostra aquele que transcendeu a Roda do Tarot. Para mim, tais significados caberiam muito bem ao Hierofante ou ao Eremita. 
Será que precisaríamos mesmo de mais cartas?
Abraços a todos.




terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Música e Cartomancia: Campanha Doe um Fone de Ouvido






Pessoal, fui obrigado a aderir. Realmente, não há nada pior do que ser invadido por qualquer sonoridade que nos soe inadequada. Até Bach pode ser inadequado, quando eu quero ouvir só um pouquinho de Akon ou talvez Ne-Yo. Sim, tem gente que se revolta com essa afirmação, mas, ao fim e ao cabo, quem quer ouvir... não sou eu?
Como já disse antes, o som é a forma mais invasiva de tocar alguém. Então, entrando na pilha do Vodu de Pano, digo: preserve seus ouvidos para aquilo que realmente lhe agrada. Aquilo que lhe toca no seu trabalho como Cartomante. Qual é a sua escolha?
Abraços a todos.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Falando sobre o Seis de Copas.

Olá pessoal. Ontem, conheci essa música que, para mim, sintetiza a experiência do Seis de Copas. Já falamos sobre isso aqui, mas essa carta sempre inspira novas reflexões. 
Certo, ninguém gosta de sentir saudade (salvo engano, claro). Mas, da forma como essa música expõe, o Seis de Copas ganha sentido. Para alguns, sua palavra chave é "passado"; para outros, "saudade". Para Crowley, "prazer". Como eu gosto muito de refletir sobre as palavras-chave do Thoth Tarot, ficava eu pensando a respeito da diferença entre os aspectos dados por Crowley com base no decanato correspondente a essa carta - Sol em Escorpião - e os demais herdeiros da Golden Dawn. Como saudades rimariam com prazeres? O prazer é tão sensorial, tão empírico, tão imediato, a saudade é tão atemporal, tão diáfana e evanescente... Como definições tão diferentes poderiam coexistir num mesmo Arcano, sem serem diametralmente colocadas - uma como correta, outra como invertida? 
Não me estendendo, já que comentamos antes a respeito disso... Vamos ao sonzinho...




I wish you bluebirds in the spring
To give your heart a song to sing
And than a kiss
But more than this
I wish you love
And in july some lemonade
To cool you in some leafy glade
I wish you health
And more than wealth
I wish you love
My breaking heart and i agree
That you and i could never be
So with my best
My very best
I set you free
I wish you shelter from the storm
A cozy fire to keep you warm
And most of all
When snowflakes fall
I wish you love
My breaking heart and i agree
That you and i could never be
So with my best
My very best
I set you free
I wish you shelter from the storm
A cozy fire to keep you warm
And most of all
When snowflakes fall
I wish you love



Abraços a todos... Já com saudades.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Baralho novo!!!

Olá pessoal. Recebi esse baralho de uma amiga que mora na Espanha, estou literalmente apaixonado... Dá uma olhadinha:





Filho único de pai solteiro, já viu *.*

A Cidade. E a Cartomancia

Olá pessoal. Essa é uma postagem rápida, que sei que dá pano para manga. Mas é fruto de uma reflexão dada por um poema do Teagone, que me remeteu diretamente à Torre, tal como o raio que lhe fulmina:





Um dia me veio à mente
Uma idéia tão concreta
Quanto o prédio para o qual
eu olhava atentamente.




As casas,em forma de chagas,
foram crescendo na natureza -
tal um cancêr que deixa
.                                                definitivas marcas
e ignora de um corpo a sua beleza.




Talvez mais definitivo que qualquer doença
Seja o referido progresso.
Um dia as idéias concretas serão dissolvidas.
O cancêr, junto com o enfermo, perecerá.


Mas, e a cidade?
Ela permanecerá eternamente onde está
Ignorando qualquer pedido da natureza.
Não, minha idéia não era tão sólida
quanto a construção.




Falando em cidade, temos mais duas cartas para comentar: o Quatro de Ouros e o Dez de Copas. Enquanto não comentamos, ficamos com o vídeo do George Michael, Flawless (Go to the city), que mostra o que aconteceria se juntássemos simultaneamente um arquipélago de solidões.
Abraços a todos.