sábado, 30 de julho de 2011

Conversas Cartomânticas: Sophia Austeros e... O Pendurado, o Mundo de cabeça para baixo - ou será você?

Continuando nossa blogagem coletiva, contamos com a colaboração de Sophia Austeros. Eu confesso que fiquei pensando febrilmente nesse texto, já que não é uma das minhas cartas favoritas. Mas a Sophia conseguiu modificar minha visão e, talvez mais que isso, simpatizar mais com o referido. 
Sophia por ela mesma:

Sou designer, bruxa, artesã e taróloga. Não necessariamente nessa ordem. E pisciana por mal de nascença.

Neo pagã, panteísta. Ser oráculo é um dos meus ofícios, como ser humano, antes de mais nada. Estudo tarô desde 2005. Aprendi a lê-lo o olhando, o que não significa que dispenso livros, mas me é impossível não olhar para a carta e conversar com ela! Sou também adepta da leitura de sinais.
Então já me delatei: Meu lance é com símbolos! E acredito em tarô como um conjunto de símbolos divididos em 78 capítulos. Essa é minha forma de estudá-lo.
Se você se interessa por bruxaria e espiritualidade pode ler-me no Fadas & Abobrinhas, se sobre paganismo e infância, pode me ver de vez em quando no Crianças Pagãs. Se gosta de artesanato, pode conhecer meu trabalho na Officina Ancestrale... Ou se só te interessa tarô e oráculos mesmo, leia-me no Oraculares!
Se quiser trocar figurinhas ou qualquer coisa, escreva para s.austeros@gmail.com

Próxima postagem: A Morte, por Nath Hera, em 2 de agosto.


O Pendurado, o Mundo de cabeça para baixo - ou será você?


Ficar parado. Ver as coisas de outra forma. Sacríficios.
De sacrifícios eu entendo, sou pisciana. E após inúmeras lunações[1] de Enforcado aprendi muitas coisas e alguns truques. 

Le Pendu
Marseille

Um homem pendurado pelo pé em uma árvore. Sozinho, de mãos atadas. Temos duas possibilidades: Ou alguém o colocou ali, ou ele está ali porque quer ou ainda: Fez por merecer.
Posso começar então dizendo que aprendi que o Enforcado quer dizer também solidão. Mas muitas vezes, não uma solidão necessária, uma solidão imaginária. Uma solidão que a pessoa sente por causa de alguma situação, desde não estar namorando a uma morte na família (nisso também se sente amarrado e impossibilitado de agir). Uma solidão que precisa ser encarada de outra forma, que deve ser vista de cabeça pra baixo. Nisso confesso, é o mal de água falando. Acredito muito nisso: que muitas vezes o sentir-se preso, impossibilitado, somos nós que criamos.
“The Tree”, do Gaian Tarot. 
Por Joanna Powell Coubert.

Daqui parto para solitude. A necessidade de repensar as coisas, necessidade de meditar, de ir para o canto e lá deixar seus pensamentos fluírem. Seu mundo, suas convicções e ideias estão prestes a ser mortas, transformadas (arcano XIII); você deve então ir para o canto, ficar quietinho, manter-se em equilíbrio e pensar no que pode fazer. Uma ideia muito expressa no Gaian Tarot, da Joanna Powell Coubert: lá seu arcano se chama “The Tree” – A Árvore, em português. Trata-se de uma mulher, em uma posição yoga de mesmo nome. Joanna descreve que “Sua graça, serenidade e equilíbrio são um espelho de seu ser interior. Ela é capaz de permanecer centrada mesmo quando seu mundo está em convulsão, quando o horizonte é fajuto e todas as coisas estão às avessas[2]. A ideia não é ignorar o mundo exterior enquanto se tem um foco no mundo interior (piscis!), isso seria trabalhar um lado negativo do arcano... A ideia é manter a cabeça em ordem, mesmo que a situação seja contrária.

The Hanged Man
Housewives Tarot

Então, até agora falamos de quando nos penduramos. Então agora vamos falar de quando somos pendurados! Ideia que pode ser muito bem observada no The Housewives Tarot – O Tarô das Donas de Casa. Neste baralho, o arcano é retratado como o marido pendurado de cabeça para baixo no varal, pela própria esposa!  A ideia é bem de sacrifícios... De quando alguém te pendura e você tem que resolver, “colocando os problemas para secar”. Pode ser conversando, pode ser terminando mas você tem que deixar essa situação terminar. Quando alguém te coloca em maus lençóis, o que você faz? O caminho é por aí.

Enforcado
Tarô Mitológico

De estar pendurado por merecer, penso muito no Tarô Mitológico, baralho de Sharman-Burke e da Liz Greene. Ali se trata de Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, levou para os homens e agora é punido. Sacrifício voluntário, focando em um bem maior (no nosso caso, esperamos que seja!), mas que tem suas consequências. Me atrevo ainda a fazer a “piadinha”: Prometeu? Cumpre e agüenta. Mas um dia Prometeu se liberta. E é isso.
Agora falando um pouco mais de vivência, uma das coisas importantes para se prestar atenção quando estamos com O Pendurado, é saúde. Digo isso porque já entrei bem. Johann Heyss coloca em seu livro O Tarô de Thoth que “Pode haver disfunções com os líquidos do corpo, bem como a tendência a contrair resfriados. As articulações também podem estar frágeis durante a ação deste arcano”. E afirmo todas como verdadeiras. Aliás, a parte das articulações já me é um grande problema, pois tenho dores frequentes, imagine pois: como fico com este arcano? Tive infecções urinárias quando estava com O Pendurado e posso ainda falar do mais óbvio e que parecerá brincadeira: Torci o pé! Afinal, como já me disse a Pietra Di Chiaro Luna certa vez: Se você se mexe muito na corda, tentando sair, acaba machucando o pé. O Pendurado é um arcano para você ficar de molho, cuidar da saúde. Não saia correndo, preste atenção no caminho e nas coisas a sua volta, mas lá do seu cantinho.
Mas o aprendizado mais importante que tive até o momento é parar de encarar este arcano como algo negativo, estagnado, parado e como martírio. Como o Johann Heyss coloca: “A evolução neste arcano depende da capacidade do Andarilho de aceitar sem se conformar”. Eu fico abismada com como ficam as pessoas quando O Pendurado vem. Se conformar é a primeira coisa que elas fazem!
Eu não me conformo, dizer que torci o pé já é uma forma de demonstrar isso. Sou ansiosa sim, mas meu problema não é parar, longe disso... Como todo mundo sabe, é difícil voltar quando se para. Mas não sei bem se esse parar do Pendurado seja exatamente um parar... Mas com certeza, martírio não é. Ele é um arcano generoso, que te ensina muitas coisas. Que faz você ver diferente sim, mas que se você permitir, mostra como agir diferente, como respirar diferente. Mostra que você deve ser diferente! Aí vem A Morte, concretizando toda essa transformação. Talvez o dito Enforcado devesse perceber o próprio Enforcado diferente!
Digo em pleno gozo de minha loucura (mesmo porque, ele ainda é O Louco!) que O Pendurado é dos arcanos mais divertidos. Não entende? Tente ver como eu vejo! [risos]


Por que não ver o Enforcado como a mesma coisa que plantar bananeira? Ou como os trapezistas do circo, aqueles com fitas coloridas? Pode machucar um pouco as mãos, dar dor depois de um tempo plantando a bananeira, mas quem planta bananeira para sempre? O trapezista sim faz isso boa parte do dia, como treino, e cada vez arranja um jeito diferente de se pendurar. Um jeito que doi menos. Mas como é um prazer pendurar-se no trapézio! E plantar bananeira? Gostinho de infância!


Quer mais? Pendure-se na árvore! Você gostava tanto de se pendurar quando criança, porque quando adulto deixou de gostar?
Interessante como encaramos o arcano da mesma forma, mesmo ele nos implorando para encarar diferente. E então vamos e voltamos de Enforcado, várias e várias vezes e achamos totalmente natural, e ficamos paradinhos. Sem se mexer... Talvez tudo que você precise fazer, quando tira o Enforcado é plantar bananeira ou se pendurar numa árvore.
Eu já tirei muitos Enforcados, muitos! Vejo-me então como eterna trapezista, descobrindo um jeito mais cômodo e divertido de se pendurar a cada mês.
Tudo isso é o que aprendi com O Pendurado, é o que sou com O Pendurado. É o que enxergo junto a ele.  Como você vê O Pendurado?



[1] Lunação: é o período entre uma lua e outra. Firmou-se a prática de tirar entre um e três arcanos, todo mês, na entrada da Lua Nova ou Cheia. Este ou estes arcanos são como uma regência para o mês que virá. A ideia partiu da Pietra Di Chiaro Luna, e foi se alastrando por aí.
[2] Tradução livre minha, o texto original pode ser encontrado no site do Gaian Tarot.

Fonte das imagens: Taroteca, blog Pensar,  Deviant Art.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Conversas Cartomânticas: Deborah Jazzini e a Força


Olá pessoal. Esse é um dos Arcanos mais interessantes se pensarmos na sua trajetória nas Escolas de Mistério. Junto ao Louco e ao Mundo, é a carta que pode ser encontrada em outros lugares dentro da estrutura do baralho. Às vezes onze, às vezes oito. "Às vezes" nada inocente, mas nem sempre compreendido e interpretado adequadamente.
E quem se apresenta para o desafio é Deborah Jazzini, que tive a oportunidade e a felicidade de conhecer pessoalmente no Fórum de Tarô.
Deleitemo-nos com essa carta, sendo guiados por ela.
Deborah por ela mesma:

Paulista, 45 anos. Formação acadêmica em Comunicação Social  em Rádio e TV pela Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo. Despertou muito cedo para as artes divinatórias , o Tarot, Baralho Petit Lenormand, Grand Lenormand, Sibilla Italiana e o Baralho Espanhol, teve um desenvolvimento autodidata e empírico.  Hoje atua como Radialista, Taróloga,Terapeuta, Astróloga e Professora.
Desde 1991 faz atendimentos, vivências e cursos na Fraternidade Pax Universal, onde foi guia de viagens místicas para o Peru, Visconde de Mauá  e São Thomé das Letras, entre outras. 
Criadora do site “Por Você” de leitura de Tarot  online e outras artes divinatórias.
Participa da programação da Rádio PAX online com o programa que leva o nome do site. 
Possui um blog sobre as artes divinatórias e textos de auto-ajuda.
Desde 2003 – 2010 ministrou aulas de Petit Lenormand no Núcleo Renascimento em São Paulo.
Participa como consultora, dos eventos dos clubes Sírio Libanês e Paineiras, entre outros. Palestrou em vários espaços e centros de estudos na área holística, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Curitiba no Brasil. 
Vivenciou várias Iniciações espirituais nacionais e internacionais, incluindo lugares sagrados e participou de Conferências Internacionais de Metafísica.  
Em abril de 2008, trabalhou no Centro Terra Cristal em Lisboa e também em Leiria e Alcanena. 
Entre Agosto a Outubro de 2009, esteve em Lisboa, Paris e Buenos Aires.
Em janeiro de 2010, trabalhou em Paris, Roma, Madrid e Lisboa.
Em abril de 2011, ministrou em Lisboa, o curso de Petit Lenormand. Esteve em Milão e Londres em julho e agosto de 2011.
Contato:
Site: www.porvoce.com.br  - Consultas online
Programa de Rádio Online ao vivo: 
http://dopranaaluz.blogspot.com  - Todas as 3as feiras das 12:45hs às 14:45hs 
Telefones:  (55 11) 3571.6750 consultório 



Lo Scarabeo Tarot
“Tenho uma força interna
que me move ao seu encontro.
Você despertou a sombra adormecida,
abriu a jaula da fera escondida
que ninguém jamais acessou.
Quebrou as defesas e escudos,
trouxe a compaixão.
Respeitando nossos limites,
experimentamos novos horizontes,
sem controle,
nos entregamos a paixão.
A cada passo um novo desafio,
sem esperar...sem ponderar
no infinito
sem  medo de amar.”
DJ
O Arcano VIII ou XI  ?

Marseille Grimauld

A Carta da Força é um aprendizado para  esta vida e mais seis meses. Partindo das informações do mundo externo, acessamos as informações mais preciosas do nosso mundo interno. Com o despertar de nossa percepção. 
Este Arcano apresentado originalmente como o número onze pelo tarot de Marseille, mostra uma mulher que usa um chapéu tal e qual do Arcano I, o Mago, a representação da lemniscata, ou o oito infinito, que usa um traje refinado e segura delicadamente a boca de um leão.  Um mestre,  representando a força, sob a regência do signo de leão.  Na cabala, a letra associada é Teth, que significa serpente, o arquétipo da energia feminina primordial. O caminho cabalístico de Teth une Chesed a Gueburah, uma ponte que integra a construção a destruição. 


Rider Waite Smith
 
Já Waite, considerava a Força, sob o signo de Libra, sendo o número 8, pela correlação seqüencial  do alfabeto hebraico com as letras que foram atribuídas a cada arcano, para representar a formulação doutrinária.  Rachel Pollack, também considera a Força como número oito. 
Nas minhas aulas, mostro todas as versões que são atribuídas deste Arcano, mas considero particularmente a Força como número onze, pela sua possibilidade de transformação interna que o signo de fogo, embora fixo, oferece.  A digestão muitas vezes das emoções são mais lentas, mas o coração não se engana e há a entrega.

 Tarot Hanson Roberts 

Um arcano rico para observação e interpretação. A cada vez que vejo a Força em diferentes baralhos, mais encantada fico.  Cada autor consegue retratar sua bela e sua fera harmonicamente, despertando o bem querer com suavidade da bela mulher e ao mesmo tempo não deixando de impor o respeito retratado pela fera. Razão e emoção (também ligado aos instintos) , interno e externo, luz e sombra, tudo junto no mesmo caldeirão.  Esta é uma carta que ao mesmo tempo nos desperta a dor como o amor. Ela exerce fascínio, temor e respeito. 
Thoth Crowley Harris

Já no Tarot do Aleister Crowley, a força é chamada de Lust, com uma tradução de Luxúria e para alguns autores como o Tesão, mostra uma versão contemporânea, ele dava a essa carta um cunho além do sexual, a transformação  do  que desconhecemos dentro de nós mesmos. 

Art Nouveau

Em alguns tarots, como o Art Noveau, como Hércules em um de seus doze trabalhos, dominar a fera. No taro Mitológico, também é assim representado.
Aura Soma

No Tarot da Aura Soma, uma descoberta feita pela inglesa Vicky Wall, uma enfermeira, que após a 2ª Guerra Mundial, se dedicou a essa terapia intuitiva, tendo a sua interpretação  baseada na teoria das cores, chacras, juntamente com a Cabala, Astrologia, numerologia e o Tarot. Nesta carta, mostra uma mulher que domina a fera através da alquimia.
A parte sombra deste Arcano é a manifestação da sua ira, cólera e principalmente a impaciência, coroada pelo requinte de crueldade e frieza, que na mesma intensidade que tem tudo para transcender e resignificar internamente, também pode levar uma pessoa a uma grande insensibilidade. Enfim, um Arcano rico e a cada retomada percebo que o grande poder dele é a entrega através do Amor.

domingo, 24 de julho de 2011

Conversas Cartomânticas: Denise D. e a Roda da Fortuna



Olá pessoal. Hoje contamos com a colaboração de Denise D, responsável pelo blog Luna Speculum. Explorando aspectos históricos e vivenciais da lâmina, acompanhemos sua visão  sobre a Roda da Fortuna. Questionada sobre sua biografia, Denise foi sucinta, definindo-se como  "peregrina de caminhos ocultos e feiticeiros". 
A ela, então, a palavra.



Muitos conhecem o que hoje denominamos Tarô como uma ferramenta para fins divinatórios, terapêuticos e ocultistas. Inclusive existem baralhos feitos especialmente para cada uma das funções citadas. Este breve ensaio tem como objetivo descrever uma das compreensões do que é o entendimento da unidade básica que faz do discernimento que é trazido aos baralhos divinatórios simultaneamente óbvio e misterioso: a humanidade. Todas as lâminas em seu conjunto refletem essa questão. Neste artigo a lâmina em destaque será a Roda da Fortuna.
O desenvolvimento do significado das lâminas é efetuado de várias formas. Aconselho que o primeiro passo a ser dado na compreensão da expressão Roda da Fortuna seja dado nos estudos da filosofia. Essa expressão é um tópico de validade geral utilizado como ponto de partida em argumentações. Foi através da obra De Consolatione Philosophiae de Boécio que o termo ganhou popularidade na Europa Medieval. Antes disso, a associação mais próxima pode ser feita a Tácito em Dialogus de oratoribus, onde a roda na verdade é uma esfera.
Em seguida, no auxílio do desenvolvimento de estudos da lâmina, podem ser feitas análises iconográficas e interpretações iconológicas através dos baralhos clássicos. Como o significado filosófico desse trunfo permanece o mesmo do conceito medieval os baralhos clássicos exibem uma perspectiva visual mais fiel. Considero que já existem excelentes materiais acadêmicos relativos a análise histórica e social do assunto tratado aqui, o que será oferecido nada mais é do que uma análise pessoal.
Toda ação retorna em qualidade e quantidade sua respectiva reação e essa é somente uma das várias conduções iniciais que podem ser realizadas para apresentar os significados internos inerentes a lâmina. Quando estamos em determinadas situações todos os eventos referentes a essas são possíveis; são o que alguns definem como fatos encadeados. A metáfora do rei é uma das mais utilizadas: vou governar, estou governando, governei. A Roda da Fortuna trata desses eventos, sendo eles conscientes ou não. Ela vem nos dizer sobre o Destino das coisas. E como o próprio Destino, seu significado está relacionado a posição que a lâmina ocupa no jogo e as lâminas que a rodeia.
Basicamente trata-se de um evento manifestado e a vivência de uma etapa conectada torna-se um fato. E é nesse ponto que começam os equívocos. Como o significado dessa lâmina está intimamente relacionada ao conceito de Destino temos que nos atentar as armadilhas de interpretação. Ela não fala se alguém é senhor/senhora do próprio destino, ou se deixa a vida nas mãos do acaso, só fala de algo que irá ocorrer que foi provocado pelo próprio sujeito. O sol nasce e se põe todos os dias mas como serão os eventos ocorridos durante esse período dependerá da vontade pessoal, o fato é visualizado mas não como ele será experimentado.
Vendo através da perspectiva de vivências disparadas torna-se fácil compreender que a Roda da Fortuna trata, nada mais nada menos, dos ciclos naturais e sua manutenção. O acaso torna-se a indiferença quanto a esses ciclos e consequentemente a fatalidade é um evento dirigido pelo acaso. O que está na Roda é o que governa o Destino do sujeito e algumas destas interpretações no jogo podem variar desde o que uma pessoa permite que interfira em seus ciclos até em quais pontos isso governa suas vontades.
A Fortuna por si só não diz muito a respeito, mas sua Roda, em seus ciclos, permite a observação dos fatos e a reintegração da ordem natural das coisas, para que assim o Destino faça sua função através do desejo sincero. O foco da realização do Destino através dessa verdade está no que é trazido à luz da consciência. Então, quanto mais os valores que impedem sua realização são realinhados, maior é a identificação de sua essência. A interação da lâmina então, em um sentido geral, nos indica a capacidade do sujeito de transmutar-se em agente na realização de seu destino.

Aqui estão algumas imagens da lâmina em baralhos clássicos:

Da esquerda para a direita: Visconti Sforza. Grogonneur. Jean Noblet. Marselha Grimauld.

Mas escolho essa imagem, e esse filme, para representar a intenção:



Desejo a todos os peregrinos uma ótima caminhada em busca da realização de seus Destinos.

Da arte de fazer perguntas.

Consulente: "Eu gostaria de saber se vou comprar um Audi"
Consultante: "..."

Olá pessoal. Cada cartomante tem sua abordagem da consulta, como desenvolver o ritual, como esclarecer o consulente. Há quem faça uma entrevista prévia para se nortear sobre as questões que devem ser abordadas. Outros, como eu, não gostam de saber o motivo pelo qual o consulente procurou aconselhamento.
Nesse caso, temos que orientar o consulente previamente para que ele entenda que o que o motivou a ir consultar-se não necessariamente é o tema da consulta. O que ele precisa ouvir não necessariamente se encaixa no que ele deseja ouvir. Mas, claro, sempre existe a possibilidade de perguntar ao oráculo o que se deseja. Não gosto que meus clientes saiam da mesa com dúvidas, gosto que saiam com reflexão sobre os esclarecimentos que as cartas ofereceram.
E é aqui que devemos ser precisos. Ter dúvidas não é querer gastar o tempo. E para isso devemos estar atentos. 


Eu conduzo o ritual da seguinte forma:
  1. Retiro a Carta Diagnóstico, para saber se posso efetuar a consulta e qual é o seu tema principal.
  2. Desenvolvo um jogo panorâmico para efetuar o diagnóstico geral da situação do consulente, tendo como foco a Carta Diagnóstico.
  3. Dialogo com o consulente sobre o conteúdo do jogo, buscando a compreensão dos pontos norteadores do aconselhamento - pois, até então, não havia travado conhecimento do motivo que o levou à minha mesa. É nesse momento que dialogamos sobre a melhor forma de ele aproveitar os prognósticos em função do que o trouxe, tirando as perspectivas de um plano ideal e trazendo-as para o cotidiano.
  4. Deixo-o perguntar sobre os demais assuntos que considerar pertinente, abrindo jogos menores para responder às questões. (normalmente, três cartas).


Nesse ponto, já estamos num diálogo aproximado de 45 minutos. A abertura para perguntas, então, deve ser precisa, para que o consulente possa se recordar dos prognósticos. Então, é bom que o consulente seja orientado na elaboração de suas questões. Para norteá-lo, normalmente sugiro uma abordagem inspirada nos quatro planos, como segue:

Plano Material

Saúde. Dinheiro. Posses. Imóveis. Negócios. As sensações. Alimentação.

Plano Emocional

O cônjuge. O(s) filho(s). A família. Os sentimentos. Os sonhos. 

Plano Mental

O social. Pessoas próximas que não partilham do mesmo sangue. Amigos e inimigos. Vizinhos. Projetos. Planos. Estruturações. Preocupações. A solidão.

Plano Espiritual

A carreira (sei que parece estranho eu ver isso aqui, mas pense bem: a carreira pode tanto ser a escolha profissional quanto o cumprimento de um destino). Viagens. O "olhar que vem de fora". A proteção e estrutura psíquica. A religião e a religiosidade.

De acordo com a natureza da pergunta do consulente, tento encaixá-la num dos planos. Dessa forma, tenho condições de temporalizar melhor seus interesses. Se o jogo tratou de finanças e de reestruturação financeira, eu posso me recusar a abrir as cartas para ver se ele comprará um Audi no tempo do jogo. Foge ao aconselhamento dado previamente, é um contrassenso. Não digo que o referido consulente não comprará o Audi, mas que, no tempo do jogo, não lhe é recomendado efetuar gastos, conforme o jogo já lhe apresentou.
Menos desgaste, maior eficácia. 

Abraços a todos.

sábado, 23 de julho de 2011

Descanse em paz, Rainha de Copas. Sobre os padrões.




They tried to make me go to rehab
But I said 'no, no, no'
Yes, I've been black, but when I come back
You'll know-know-know

Amy Winehouse, Rehab

Bad news, pessoal. Amy Winehouse faleceu. É uma perda para o Jazz, para o Soul e para o R&B. É engraçado como a nossa relação com a morte, enquanto pertencentes a uma sociedade cristianizada e ocidental. Parece-nos que a perda valoriza aquele que parte, sendo que, de fato, a pessoa viva teria muito mais possibilidades de nos oferecer surpresas. A Morte "fecha o pacote", deixa completo o que poderia ter estado inconcluso até o momento. Além do que, para uma sociedade comercial como a nossa, que vive da exploração da memória, a cada ano que passa a biografia de um popstar ganha em possibilidades explorativas. São DVDs, CDs, pôsteres, camisetas, pulseirinhas, bala de goma... Comemorando o fim. Uma macabra epítome. (thanks, Leo Dias, pela apresentação do termo)
E, acompanhando as postagens no Facebook, percebi o quanto as pessoas se ligam em padrões. No caso, as mortes aos 27 anos.  
Desde que o mundo é mundo nos ligamos em padrões. De cores. De formas. De comportamentos. De possibilidades. Os padrões externos norteiam nosso próprio comportamento em dadas situações. O que não se pode confundir é um padrão com um sinal - o que, raramente, ocorre simultaneamente. 
Por exemplo, eu sei que não posso atravessar a rua no sinal vermelho. Esse é um padrão aceito pela sociedade como sinalizador de um acontecimento - quando o semáforo acende a luz vermelha para os pedestres, os carros podem passar e vice-versa - mas não posso tomá-lo como um sinal, só porque, uma vez, eu encontrei uma amiga querida que não via há muito tempo justamente porque não pude atravessar, graças ao semáforo ter mudado de cor.
Imagine se eu ficasse esperando no semáforo que a mesma situação ocorresse toda vez que o sinal ficasse vermelho...
Bem, de acordo com a matéria supra linkada, a morte aos 27 anos é uma "lenda que assombra o mundo do rock desde os anos 1970, quando morreram Jimi Hendrix e Janis Joplin, por overdose, Jim Morrison, do The Doors, de causa não esclarecida, e Brian Jones, do Rolling Stones, por suposto afogamento.
Duas décadas depois, Kurt Cobain, líder da banda Nirvana, passou a integrar essa trágica lista após se suicidar. De acordo com familiares do roqueiro de Seattle, desde criança ele falava do sonho de participar do clube, que inspirava a ideia de morrer jovem depois de viver intensamente."
Certamente, antes Brian Jones e do Kurt Cobain, alguém deve ter tido a "excelente" ideia de manter o padrão de pessoas com "J" aos 27 anos.  Depois do Brian Jones, só sobrou a idade. E percebamos, com o texto, que depois de correlacionadas as mortes de algumas personalidades, houve uma tentativa voluntária de aproximação desse "ideal de vida" pelo Kurt Cobain. 
E agora, Amy Winehouse. Fora o fato de ter um estilo de vida semelhante ao dos supracitados, não há nada que os correlacione. A idade de morte? Semáforo vermelho. Poderia estar verde.  


Ok, reitero o que disse acima, padrões nos deixam confortáveis. E são funcionais, dentro do seu sistema de funcionamento. Mas não deveriam ser utilizados levianamente como sinais. Caso contrário, nos tornamos escravos do nosso passado e incapazes do novo no presente, já que, de alguma forma, os sinais que recebemos dialogarão diretamente com nossos atuais passos. 
Não poderia, portanto, interpretar a carta do Louco, no Tarot, ou da Cegonha, no Petit Lenormand. Elas perderiam todo o seu sentido específico e ganhariam outro, que eu não sei o quão efetivo seria. Estamos lidando com o novo, nessas cartas. Estamos lidando com a novidade, não com o mais do mesmo; com o inusitado, não com o revisitado! 
Esse é o caso também de muitas pessoas que procuram o oráculo. Depois de sonhos repetidos, depois de situações parecidas ou de encontrar pela oitava vez consecutiva uma pessoa de determinado signo, vêm ao oráculo para buscar confirmações às suas suposições. Mas, até que ponto a repetição incorre em lição? Até que ponto o coração se sente incomodado com tais digressões? Até que ponto a repetição incorre em estímulo? São esses os pontos, que a meu ver, tem importância, para além do acontecimento, per se.


Não me interesso em padrões rasos de morte. Estou interessado em padrões de comportamento, que nos permitam maior profundidade, maior entendimento, maior autocrítica.. É uma pena termos perdido Amy Winehouse, mas cada um no seu quadrado e cada qual no seu balaio, please. A morte já é dolorida demais para virar padrão além do que ela já é - para morrer, basta nascer.
Às vezes, nem nascer.
Abraços a todos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Conversas Cartomânticas: Sandra Ayana e o Eremita.


Olá pessoal. Continuando nossa blogagem coletiva, hoje contamos com a colaboração de Sandra Ayana. A Sandra tem uma abordagem muito bacana do Petit Lenormand, relacionando as combinações entre as cartas com textos e poemas de pura sinestesia.
Sandra por ela mesma:

Sou formada em jornalismo e estou em fase de conclusão da Faculdade de Teologia Umbandista. Comecei meus estudos de tarô aos 13 anos de idade com o Marselha - até hoje, o meu preferido. Sou autodidata. Desde então, me interessei por vários ramos da espiritualidade, passando pelo esoterismo, kardecismo, e há 20 anos sou adepta dos cultos afro-brasileiros, umbandista.  A astrologia e o baralho cigano também me acompanham na trajetória espiritual e profissional. Trabalhei em várias empresas de consultoria esotérica, que me trouxeram uma bagagem de milhares de atendimentos realizados. Atualmente mantenho um blog de baralho cigano, realizo atendimentos através do telefone  (11) 2959-4856 e do MSN ayanatarot@hotmail.com e faço consultas presenciais à domicilio.


"Tudo se transforma no seu contrário"
Heráclito

Gosto de pensar no encontro do Eremita com o Louco como um ciclo que se fecha e se abre num eterno movimento nos reinos do aprendizado do espírito. O Louco é a desordem, o caos que encontra direção ao cair na profundidade de si mesmo e começar sua viagem espiritual. E o Eremita, por outro lado,  significa a experiência daquele que percorreu todo o caminho e se iluminou. Traz em si a sabedoria e o domínio das energias, carregando sob o seu manto a vivência de todos os arcanos. O Eremita volta ao início para encontrar o Louco e recomeçar uma nova jornada de crescimento espiritual, pois sua sabedoria é do Espírito. Ele é o Iniciado, o arcano do Tarô. O Eremita finaliza um conhecimento para começar de novo.  Sallie Nichols, no livro Jung e o Tarô, cita o brilhante pensamento do psicanalista sobre este arcano: "o arquétipo do espírito... o significado preexistente escondido no caos da vida".
Analisando um pouco parte do simbolismo dos arcanos acima, vemos que o bastão  - vontade e poder de ação -  do Louco aponta para o futuro. No Eremita, o bastão  se verticaliza e toma a forma de um cajado, axis mundi do arcano, em perfeita ligação com os planos da matéria e do espírito.
A vegetação na carta do Louco está em formação, algumas ainda sem cor, enquanto no Eremita a ausência de vegetação indica um ciclo de vida que acabou - nesta comparação. Dentro de outro plano de entendimento do Eremita, a ausência de vegetação pode indicar a  consciência  de que todas as formas de vida pertencem a uma unidade, motivo da 'figura viva' ocupar, sozinha, todo o espaço da carta. É importante, também, notar a transformação que ocorre na touca do Louco para a touca do Eremita, as cores, as roupas, etc. Deixo essas observações para o livre pensamento do leitor.

Representado nos tarôs renascentistas como "Diógenes em busca de um homem", parte do significado simbólico do Eremita refere-se ao filósofo grego. Diógenes tinha como casa um grande barril e caminhava maltrapilho pela cidade com uma lamparina acesa, mesmo durante o dia, dizendo que procurava um 'verdadeiro homem'. Aquele que vivia de acordo com a natureza. Desprezava as convenções sociais, a vaidade, o poder, e buscava uma vida natural no isolamento, sem dependência de luxúria. Fazia da pobreza a sua virtude e era contrário à propagação pública do conhecimento. Adiante, na mesa de consulta, citaremos a Síndrome de Diógenes.

O Eremita é o conhecimento transformado em sabedoria através da experiência e do tempo. Viver nosso Eremita significa um período de introspecção, de isolamento e afastamento do mundo exterior para encontramos a nossa verdade, os nossos valores. É meditar e viver o sagrado dentro de si mesmo. É encontrar o Mestre interior. Gosto de chamá-lo de ilustre desconhecido, pois é longe dos holofotes que a sua luz brilha. A luz da sabedoria do espírito. 
Astrologicamente associado ao planeta Saturno, o Senhor do Tempo e dos Limites, o Eremita é solitário, velho e lento. Ele causa atraso nas previsões pela necessidade de cautela e paciência para amadurecer a idéia antes da conclusão do objetivo. Não existe pressa para o Eremita, apenas o aperfeiçoamento.



O Eremita na mesa de consulta:

No plano espiritual, ele é o Guardião, o Grande Iniciado, o Portador da Luz (Luz se fez). Conhece o caminho das trevas e transita livremente com a luz da sua consciência, simbolizada pela lamparina. Quando digo trevas, me refiro à escuridão do inconsciente e da ignorância. Ele ilumina o caminho para aqueles que quiserem seguí-lo. Saber, querer, ousar e calar são seus atributos. Traz sabedoria e proteção.
No mental, é aquele que busca o conhecimento sempre apoiado na razão. É o estudo, a investigação, a prudência. Não se limita aos livros, seu saber vem da experiência. É o conselheiro que sugere o que fazer através do seu exemplo de vida. A filosofia. Também pode indicar teimosia e apego às suas próprias idéias.
No amor, significa tendência à solidão e fidelidade a si mesmo. Revela um amor maduro sem entrega às volúpias da paixão, pois conhece as armadilhas do desejo. Sexualmente experiente, o Eremita pode indicar desde sexo tântrico à perda total da libido. O sexo solitário também é representado por este arcano. Timidez. Amor por pessoas mais velhas.
Na saúde, o 'Velho" que surge na carta, representa os ossos, joelhos, dentes, pode indicar artrite, reumatismo e doenças pertinentes a idade avançada. Por outro lado, também indica vida longa. Carta negativa para gravidez. Na área psicológica, refere-se à Síndrome de Diógenes e os sintomas são: isolamento social, abandono da higiene, viver voluntariamente em condições de pobreza, entre outros.
No material, o arcano pode significar pobreza ou dificuldade financeira. No entanto, ele também indica o acúmulo de bens sem o gozo dos prazeres que o dinheiro proporciona. Como a pessoa que guarda dinheiro a vida inteira e vive como pobre. Sovina. A carta favorece os bens imobiliários e as economias.
Esse é um pouco do meu Eremita, que agora se cala.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Lenine e o Tarot

Encontrei essa música num daqueles acasos que só são acasos por falta de melhor vocabulário... Para apresentar, Shadowscapes Tarot #wishlist



 Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Por trás do seu sossego, atraso o meu relógio
Acalmo a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussure em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa...