terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tenho medo de jogar cartas... E agora?

A Glau, do blog Quitandoca, escreveu um post para as pessoas que tem medo de cozinha, que achei tão confortante e acalentador, que acabei inspirado para fazer o mesmo por aqui. Já falamos, previamente, sobre o começo da conversa com as cartas, mas focamo-nos nas conversas desejadas. E quanto se tem medo das cartas e do que elas podem oferecer?

"Jogar Tarô? eu? Imagine... Tenho medo dessas coisas!"

Que Cartomancia é um ato de magia, é quase consenso. Magia, nesse caso, é tomada na mesma acepção de Arte - trocentos conceitos, nenhum consenso sobre qual é o mais preciso e adequado, usamos o termo esperando a compreensão de quem o recebe, sem a menor certeza se o que dizemos é o que é ouvido (ou lido). Mas, se tomarmos os atos de magia como atos de Vontade, Cartomancia é, sim, um ato de magia. É a manifestação do desejo intrínseco do homem de perscrutar o futuro, no limite, o devir.
E isso dá medo.


Nove de Espadas
Waite-Smith Tarot
A realidade pode ser dura, mas a imaginação perversa é mais.

Evidente; ninguém quer antecipar, nem o maior dos ansiosos, uma situação difícil, ruim ou limitadora. Sofre-se várias vezes até o sofrimento final (quando a previsão se mostra, afinal, correta). Então, com o tempo, a gente aprende a não discutir. Não é um fatalismo, longe disso; mas, se está ali, para quê discutir? Está ali, eu sei que é verdade. Resta me adaptar e adequar ao melhor caminho, que minhas cartas apontam.
Primeiro medo: as cartas funcionam.
Segundo medo: as cartas funcionam! Paradoxal pensar nisso, mas existem ainda pessoas que temem justamente o fato das cartas funcionarem! Talvez, convencidos por Machado de Assis que o caminho é justamente o oposto daquele lido pela Cartomante, se surpreendam justamente pela eficácia do oráculo! Em qualquer outra profissão, o esperado é que as coisas funcionem como propõem-se que funcionem. Só nas mancias eu ainda vejo as pessoas buscando um atendimento só para terem certeza de que estavam certas em não acreditar em nada disso.
Como se, para a Cartomancia funcionar, fosse necessário acreditar em alguma coisa...
Terceiro medo: Sim, elas funcionam. Darei eu conta de entender o que elas querem dizer? Sim, dará. O mote as cartas não mentem jamais é real. E elas são tão sinceras que desmascararão qualquer um que se proponha a jogar sem se dedicar, sem apreender. Poderia eu falar sobre estudar, mas não é esse o caso. Sensibilidade não é como estudo. Estudo se cria. Quero saber sobre os nabos do Tibet? Google it. Eu não sabia, passo a saber. 
Isso não funciona quando falamos de sensibilidade. Sensibilidade se desenvolve. 
Então, você pode estudar a relação entre as cartas, e sim, você será um cartomante. Você pode se sensibilizar para o que elas representam, e sim, você será um cartomante. Mas é da união do estudo com a sensibilidade que nasce a segurança que afugenta o medo. Está ali na mesa, você vê, e você sabe; não é uma visão fugidia, é uma combinação de cartas que atrai sua atenção para passar uma determinada mensagem. Não tem que discutir, não tem que temer. É só falar. E funciona. Você entendeu o que elas quiseram lhe dizer, naquele contexto.
Partamos então para o contraponto. Zoe de Camaris, citada pelo Leo Chioda, diz, e eu assino embaixo: só na posição de consulente é que se sabe do poder do tarólogo. E é deles, dos consulentes, que parte o quarto medo. 
Ok, você já superou o fato das cartas funcionarem, e já consegue manter um diálogo com elas. E o medo do consulente? Medo aqui, em duas acepções: medo do consulente em relação à consulta (aquele mesmo medo que você já experimentou e já superou, então tem a compreensão de como ele funciona) e medo do Cartomante em relação ao seu cliente.
Esse talvez seja o medo mais fácil de perder, por isso mesmo aquele a que tende-se a se agarrar mais. Jogue. Muito.
Cartomante não é terapeuta, não é psicólogo, não é psiquiatra, não é médico, a menos que seja além de ser cartomante. Então, pasme: o consulente não veio para lhe ver. Ele veio para saber o que as cartas têm a dizer, e por isso veio lhe ver.
Você é o profissional que intermedia essa relação, não é muito importante. E, por isso, é importante: você é capaz de ler, mas são as cartas quem vão dizer o que você tem a dizer. Ninguém valoriza uma carta pelo escriba, mas sim pelo conteúdo - e do conteúdo procede o valor do escriba. E ninguém deveria valorizar uma consulta pelo cartomante, mas pelo que é dito. 
A Cartomancia apresenta o cartomante, não o contrário. Não sei para você, mas para mim isso é extremamente confortador. Você não é o consolo, você não é o apoio, você não é o conselho. As cartas são, e você só as interpreta. Partem delas as informações precisas que você deve repassar.
E é por isso que deve-se jogar muito, para perder o medo. Cada consulente é um, cada consulente vem de um jeito, busca informações de um jeito, apresenta-se de um jeito. Se focarmo-nos em como nós podemos auxiliar cada um deles, teríamos que nos utilizar de um universo de técnicas que não são fundamentais à nossa profissão. Nós temos um baralho - ou mais de um - e isso basta: confiemos no que ele(s) diz(em). Reitero: cartomante não é terapeuta, a menos que o seja.
Eu aprendi cartomancia desde pequeno, não sei muito bem sobre o medo das cartas, porque nunca tive; sei do medo do que se ouve, sei do medo do que se cria em fantasmas na mente que sequer possuem grilhões no mundo real (seja lá a amplitude que tenha o termo "real").
E esteja atento ao diálogo das cartas. Se elas estiverem falando claramente, ótimo. Se não, pense se não é você que está precisando limpar os ouvidos e treinar mais... para perder o medo.
Abraços a todos.

Um comentário:

  1. Querido Manu, o medo vem somente do fato de as pessoas não perceberem o incrível poder que têm sobre suas vidas. Tb acontece outra coisa: colocam vontades na cabeça e não pensam em outras possibilidades melhores. Ser um bom consulente também envolve técnica! Senão, corre-se o risco de não aproveitar nada da consulta! ;-)

    beijos cartomânticos! :-)

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