sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Cartas encardidas e seus conselhos alvejantes

Olá pessoal. Acabei de ler o texto da Pietra sobre as cartas encardidas* em posição de aconselhamento. Fiquei pensando sobre minha própria experiência com as referidas. Afinal de contas, uma coisa é interpretar uma carta para outrem – por mais compaixão que se sinta, ali não deve haver sentimentalismo que impeça a plena compreensão do contexto pelo maior interessado, o próprio consulente. As cartas devem ser lidas como se apresentam. Mas... e quando o mesmo ocorre em relação a nós mesmos, seja em jogos particulares, seja em consultas das quais sejamos consulentes?
Não vou mentir. É um saco.


Valete de Espadas
Marseille Grimauld

Por maior que seja a imparcialidade com a qual você trata seu oráculo, quando você vê um dos cincos ali, em evidência, ou o Pajem de Espadas, ou a Torre, entre outras... Dá um gelinho sim, na espinha. Por um micromilésimo de segundo, perpassa a mente: “eu podia ter ficado sem essa...”. E é o segundo seguinte que definirá tudo na sua leitura. Ou você aceita o que viu, pestanejando, mas já planejando os próximos passos, ou olha bem para a carta com as lentes cor-de-rosa que se plasmaram imediatamente nos seus olhos e diz: “não, essa carta pode significar tantas coisas, por que seria algo ruim justo dessa vez?”


Happy Squirrel
Simpsons

Voltamos aqui à experiência lá dos Simpsons. Parece-me conveniente que, por vezes, nos enganemos, justamente nos aspectos que nos desagradariam mais. O chato é que esse não é o caso. Quando vemos e interpretamos, sim, a primeira impressão é a que fica. Quando interpretam para a gente, também.
Eu tive a experiência de jogar Tarô com uma garotinha de doze anos, mais ou menos. Ela só via desgraça. Deus me livre! Até na Imperatriz, no Sol (ela jogava só com os Maiores, não sei se ainda joga só com eles) ela conseguia ver, com precisão, o pior lado da carta. Demorou para eu entender como deveria levar a leitura. Ela tinha mais a oferecer que eu poderia perceber, a priori.
Ela me fez ver certas cartas como realmente são. Não tão boas. Evidentemente, não tão ruins como ela via. Mas para isso serve o filtro mental - a ideia do oráculo é levar o consulente a pensar, não a obedecer.
E aí, em contrapartida, acabei aprendendo um pouco mais sobre as encardidas. Elas não são desejáveis, fato; mas elas são necessárias. Necessárias como aquele "não" que você diz ao seu colega que não sabe que você parou de fumar e lhe oferece um cigarro. Evidentemente, é só um cigarro... que pode tornar-se bem mais que um maço por você ter quebrado seu juramento de não mais fumar. Acrescente à essa lista as vezes em que quebrou um regime, furou uma fila, omitiu sua opinião sincera, mentiu. 
Por melhores que fossem suas intenções, por menores que fossem os danos, você fez companhia ao incomensurável número de almas boas de comportamento ruim que fizeram residência no cortiço infernal. E isso não é bom.


Apego ao Passado
Cinco de Água/Copas
Osho Zen Tarot


E por isso as encardidas. Elas são o "não" da nossa consciência superior ao caminho mais fácil, porém, menos favorável. Elas são o "não" da nossa consciência ao investimento errôneo de nossos esforços. Elas são a consequência, no limite, de nossos atos menos nobres.
O interessante é perceber que a maior parte delas revela padrões mentais inadequados.  Medo lidera o ranking. Em segundo lugar, pesar e arrependimento. Seguem-se a eles raiva, insegurança, pesadelos, maledicência, crueldade, sadismo, masoquismo. A lista é enorme, mas não é infinita.
Existem estudos interessantíssimos sobre os aspectos sombrios dos Arcanos e evidentemente, sobre as encardidas. Tenho me dedicado a esse tema com certo vagar, porque, apesar do Diabo não ser tão feio quanto lhe pintam, nem é tão bonito quanto acreditamos que seja. E no limite entre o pessimismo e o otimismo pueril existe um oceano de possibilidades que deve ser singrado com cuidado.


Mente
Valete de Espadas
Osho Zen Tarot


Mas, na leitura, aceitar o conselho alvejante - que elimina toda mancha mental, toda a lixeira que costumamos manter quando as expectativas não correspondem ao esperado - é realmente libertador. Mesmo que dolorido.
Abraços a todos.


Cartas encardidas: cartas desagradáveis, indesejadas, complicadas de vivenciar. Quando disse isso pela primeira vez foi crise de riso geral...

2 comentários:

  1. Emanuel... acho que vc salvou minha vida!!! Ou pelo menos a minha lunação!!! Rsrs
    Brigada querido... meu socorro foi soprado aos seus ouvidos!!

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  2. Primeiro de tudo, obrigada pelas palavras... eu adoro que esses intertextos acontençam e possamos pensar, refletir e fazer mais textos...

    E sim, meu, como dá um gelo na espinha. Muitas vezes pensamos: poxa, será que eu não evoluo?
    Mas tem horas que estamos nos levando para isso ou aquilo...
    Bom, o lance é perceber o melhor que as cartas podem nos oferecer, aprender, e prosseguir!
    bjo

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Quando um monólogo se torna diálogo...