segunda-feira, 16 de março de 2015

Dos usos do Lenormand: seres espirituais e métodos.

Olá pessoal. Em nossa blogagem coletiva, tivemos uma pequena lacuna, que dá muito pano pra manga em conversas diversas: existem mesmo analogias entre os seres espirituais e as cartas do Lenormand? Se existem, funcionam? Se funcionam, como posso aproveitá-las em minhas leituras?

Embora a maior parte das cartas do Petit Lenormand sejam consensuais em sua atribuição simbólica, algumas causam certo estranhamento quando localizamos abordagens específicas. É o caso do Livro, que para mim significa o lado profissional; todos os demais significados (segredo, mistério, guarda, informação mais acurada) são consenso, mas profissão não. Há quem veja profissão na Foice – e as pinturas do século XIX, sobretudo do Realismo europeu, estão aí para nos explicar por que – e já ouvi dizer que até mesmo a Âncora possa ser o campo profissional do consulente. 
Quem está certo?
Aquele que faz o significado funcionar em sua leitura. Se funciona, está correto. Não nos preocupemos com teorias se, na prática, existe efetividade.
Pois bem. Desde o trabalho de Katja Bastos e Cesar Bastos – o Tarot Cigano – temos referências bibliográficas à associação dos Orixás e alguns encantados às cartas do Petit Lenormand. No Tarot Cigano, em especial, a referência é direta e iconograficamente representada. Sabemos, porém, que esse uso é anterior à edição do baralho, sendo utilizado em terreiros com certa frequência. Era essa a linguagem disponível para que a metáfora se tornasse previsão.
Temos então um uso, um costume e uma referência com pelo menos três décadas para a devida contraposição: é necessário conhecer os Orixás e os encantados para ser um bom leitor do Petit Lenormand?
Não, não é. Mas é um estudo que funciona. Eu apliquei por muitos anos, com excelentes resultados. Não posso negar a efetividade do método, mas não considero-o essencial no entendimento das cartas. Saber que um significado existe não faz com que esse significado se aplique. Mas abre a mente e dá contexto, garantindo uma leitura mais clara sobretudo da iconografia produzida com essa intenção.
Com o recente boom do Lenormand – como se ele tivesse sido descoberto agora! – a literatura referente a ele engatinha em busca de respostas e questiona tudo o que foi produzido até então. Essencial que isso aconteça, para que possamos entender o mercado artístico que se segue a ele assim como justificar o processo artístico anterior. Entendendo a iconografia, passamos a entender minimamente a prática – as cartas Lenormand são de caráter mnemônico muito mais que alegórico, ou seja, o que as cartas significam deve estar explícito e a metáfora implícita no conhecimento do operador da leitura.
Vemos aí um uso exagerado da palavra tradicional. O que é tradicional? Aquilo que é perpetuado ou aquilo que é “descoberto”? O Petit Lenormand funciona menos se chamado de Baralho Cigano? Os significados desenvolvidos para a iconografia produzida no Brasil deixaram de fazer sentido? Tradicional, como conceito, se opõe a moderno ou se opõe a obsoleto?
Desta feita, o livreto que acompanha a maior parte dos baralhos que compramos em casas de artigos religiosos está agora alçado ao cargo de fonte referencial, não mais fonte primária. Novas interpretações para um texto razoavelmente obscuro trazem à luz possibilidades para um método outrora obsoleto. Ainda bem! Quando eu adquiri meu primeiro Petit Lenormand – o Baralho Para Ver a Sorte – fui aconselhado a rasgar o livreto e usar a intuição. 
Não fiz nem uma coisa, nem outra: guardei o livreto e estudei a fundo as imagens e suas inter-relações. Na época, sobretudo pela escassa literatura do ~longínquo~ ano de 2002, o livreto soava pouco, raso, pequeno para aquilo que a prática me mostrava.
Doze anos depois, vemos que existe muito naquele texto a ser interpretado. Muito a ser visto, revisto, revisitado, explorado e utilizado adequadamente na prática. Mas foi necessário muito tempo para que isso se delineasse.
Dessa forma, não considero correto deixarmos todo o tempo em que estudamos as imagens e aplicamos seus significados com acuro para trás, devido à pesquisa histórica ter nos dados novos referenciais de leitura às fontes primárias. Deveríamos sim questionarmos como é que, sem tais fontes, o baralho mostrou tanto acuro. Essa questão nos aproxima do processo de memória, esquecimento e insight que ocorrem em uma leitura oracular: não são todos os significados que saltam aos olhos, apenas os necessários. Por que isso? Como isso se opera em nossa psique? Como o uso e o costume podem sedimentar significados a ponto de termos o grau de precisão que temos com nossas cartas?
Usou-se, para diferenciar as abordagens, os termos Escola Europeia e Escola Brasileira – Lenormand ocupando o espaço que outrora fora do Barroco, uma releitura com ingenio daquilo que obtínhamos da Europa. Contudo, com o avançar das pesquisas, vemos que a geografia da cartomancia com o Lenormand é muito mais específica, muito mais localizada, muito melhor referenciada que supúnhamos. E isso nos abre portas para a experimentação e para uma conceituação muito mais precisa e efetiva. 
O que não pode nos fugir à vista é que estamos falando de um mesmo baralho com abordagens diferentes. Uma mesma estrutura que ganha - e perde - atributos de acordo com o ponto de vista do idealizador, sem perder em essência seus pontos fundamentais: o atributo e o significado chave. Uma vez de posse dessas referências, qualquer Petit Lenormand é um baralho familiar. A parte mágica disso é: cada um deles falará um pouco mais sobre determinado aspecto das cartas depreciado pelos demais. 
Sendo assim, utilizar ou não os Encantados em suas leituras dependerá mais de você que do baralho, ou de uma tradição específica para tal. Eu usei tais significados por anos, e fui muito feliz no uso, até encontrar minha raiz, meu foco na interpretação. Eu falarei um pouco mais sobre isso em breve, mas já deixo o questionamento aqui pontuado: o que faz de alguém um bom cartomante? Seu repertório de leituras ou sua fidelidade a um estilo ou abordagem? Sugiro a leitura do texto elucidativo de Chris Wolf sobre a aquisição do primeiro baralho.
Abraços a todos.

Em tempo: uma apresentação por Cris Mendonça, que entende MUITO do riscado. Um ponto de partida para que conversemos mais. Esteve conosco na II Mesa sobre as Cartas Ciganas, espero reencontrá-la na quarta. 

domingo, 15 de março de 2015

Das manifestações. Ou: uma pequena nota sobre 11, 21 e 23 no Petit Lenormand.

Olá pessoal. Eu naturalmente me desvio de movimentações grupais porque tenho uma tendência a raciocinar muito e movimentos em grupo levam-nos a agir por tabela, rápido demais, o que gera muito mais arrependimentos que ação efetiva, de fato. Mas não deixo de observar suas causas, possíveis efeitos e resultados efetivos.
Tenho sido bombardeado em minha timeline no Facebook por comentários favoráveis e desfavoráveis ao governo, notícias que são dadas e depois modificadas em questão de horas, mas, sobretudo o que tem me chamado a atenção é o grau de paixão com que essa comunicação está sendo feita. 
Embora eu considere o Jardim a carta por excelência da política - e falaremos muito sobre isso na IV Mesa Redonda sobre as Cartas Ciganas, em junho: eu me debruçarei justamente sobre essa carta - o que vejo nessas propostas de manifestação nada tem de Jardim e muito tem de Chicote. Quem já fez aulas comigo [quem não fez terá a oportunidade em breve - teremos os três módulos do curso de Lenormand no Espaço Merkaba] sabe que de Espadas para Paus existe um abismo de distância, onde a única ponte é o fato de serem os naipes pretos do baralho.


O Chicote, entre outras coisas, fala de poder e empoderamento. Troquemos a imagem de um chicote, pela imagem de um revólver: o revólver em si não apresenta problema algum, o problema é quem o manipula! Tendo em mente essa ideia, não posso deixar de pensar no quão graves tem sido as acusações de um e outro grupo político, contra o outro e contra o futuro possível entre eles. 
Ora na mão de um, ora na mão de outro, o Chicote estala em panelas nas janelas de São Paulo.


O que me leva a questionar esses movimentos todos é a certeza que possuem. A certeza de que, agindo de forma imperativa, algo mudará. Levantando um muro contra o lugar comum, haverá revolução nos costumes. Agressivamente, haverá um atrito que encerrará a inércia em relação a certos temas.
Não queridos, vocês não são o Gandalf. E o lugar comum não é o Balrog.
[Curiosamente, o Balrog possui um Chicote. E o usa muito bem - diga o próprio Gandalf.]

Mas o que mais me chama a atenção, em relação a isso tudo, é como que a mídia tem reagido a isso. Eu não me aprofundei no assunto agora, e quando efetivamente aconteceu eu era apenas um garoto bem mais atento à Eco 92, com a atenção própria de uma criança de seis anos. Mas não deixa de chamar a atenção a nova geração querer retomar o que a anterior a minha derrubou - a ditadura - com um processo efetivado por essa mesma geração - o impeachment do presidente Collor. Soa-me curioso porque, nesse processo de memória e esquecimento que é o correr dos dias, quem se lembra efetivamente do que ocorreu naquela época? Razoavelmente próxima de nós, razoavelmente recente, mas que aos meus ouvidos soa tão distante, tão desconhecida, tão estranha quando vejo os desejos da geração atual a querer de volta a ditadura e de volta o impeachment.
Parece estranho colocar esses dois eventos em um mesmo balaio, coisa que particularmente evito. Mas, ao rolar minha barra no Facebook, é o que vejo. E são as redes sociais que me soam como diferencial entre uma época e outra.


Tendo uma repercussão muito maior que o esperado, as mensagens de Whatsapp que chamavam o povo às ruas no dia 15 de março não se mostrou nem de longe o caos esperado. Vi muito pouca gente, frente o número de vezes que recebi a tal mensagem - cansei de apagar, cansei mesmo. 
Mas era muita gente, com muita promoção midiática.
Não estou preocupado com o processo de enfrentamento - essa Montanha seria muito mais forte em outras circunstâncias. Soa-me perigoso, e é ao que estou atento, a ação perniciosa dos Ratos que dessa onda se apropriam.

Abraços a todos. E, quando eu for falar de política novamente, preferirei usar o Jardim. De Paus a Espadas, atravessemos o abismo.

domingo, 8 de março de 2015

Oito páginas de... Anjos.


Olá pessoal. Ao perceber que o Oito Páginas deste mês seria no Dia Internacional da Mulher - parabéns a todas as leitoras do Conversas Cartomânticas! -  pensei em todas as mulheres que já passaram pela minha vida mágica. Desde minha avó, que pôs o primeiro maço nas minhas mãos, passando por todas as mestras, amigas, ciganas, feiticeiras e clientes com as quais compartilhei minha jornada ou ofereci um alento e um vislumbre do porvir com minhas cartas.
Nesse processo, reencontrei meu segundo baralho, o Tarot dos Anjos, da Monica Buonfiglio. E com ele, nosso terceiro tema. Eu já havia retomado esse baralho com grande carinho após ver uma postagem da Lya Córdoba, que estava aposentando um dos seus, velhinho de uso e cheio de histórias, colocando-o em um belíssimo quadro.
Dificilmente encontramos material sobre os Anjos que não seja inspirado no trabalho de Monica Buonfiglio. A ela, nesse dia e em todos os demais, meus parabéns por ter aberto um horizonte de possibilidades para muitos de nós que começamos na década de noventa a trilhar um caminho cujo final ainda não nos é conhecido.
Para conhecer as obras da autora, clique aqui.
Ah, pessoal: a Copag está com uma promoção para o Dia da Mulher: 15% em toda a linha Tarô! Dentro da temática de hoje, conheçam o baralho Poder dos Anjos aqui.
Até o nosso próximo Oito Páginas!

EM TEMPO: Para os que professam o paganismo helênico, existe um texto bem confortante sobre a forma de entrarmos em contato com nosso Daimon. Aqui, no Sofá da Álex.